Em 2016, os Estados-membros da Comunidade da África Oriental (CAO), Ruanda, Quênia, Tanzânia, Uganda e Burundi anunciaram sua intenção de eliminar gradualmente as importações de roupas e calçados de segunda mão de países ocidentais até 2019, para alavancar as indústrias têxteis locais. A CAO duplicou a tarifa externa comum para roupas usadas (para $0,40 por quilo). E o Ruanda aumentou o imposto sobre as importações para $2,50. Mas isso irritou os Estados Unidos, e todos recuaram, excepto Ruanda.

Em toda a África, as remessas diárias de roupas usadas, enviadas em grande parte pelos EUA, Reino Unido e Canadá, alimentam uma indústria informal multimilionária que emprega milhares de varejistas locais que obtêm lucro revendendo os itens. A África Subsaariana importa a maior parte das doações de roupas usadas. No ano passado, a Comunidade da África Oriental (EAC) importou roupas de segunda mão no valor de US $ 151 milhões, segundo dados da ONU.

Ruanda fez um enorme progresso econômico nos últimos 25 anos. Mas as autoridades argumentam que a onipresença das roupas usadas, conhecido como chagua, sufocou o crescimento da nascente indústria têxtil ruandesa e prejudicou o orgulho nacional.

“O objetivo é ver muitas outras empresas produzirem roupas aqui em Ruanda”, diz Telesphore Mugwiza, funcionário do Ministério do Comércio e Indústria de Ruanda. “E também proteger nosso pessoal em termos de higiene. Se Ruanda produz suas próprias roupas, nosso povo não terá que usar camisetas ou jeans usados ​​por outras pessoas. As pessoas precisam mudar para esse tipo de mentalidade ”.

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A disputa começou em março do ano passado, quando a organização comercial norte-americana “SMART” – Associação de Materiais Secundários e Têxteis Reciclados – apresentou uma reclamação junto do Representante do Comércio dos EUA, alegando que a proibição de importações de roupa e calçado importados prejudicou a indústria norte-americana. Segundo a “SMART”, pelo menos 40.000 empregos estavam em risco nos EUA.

Face à reclamação, o Governo norte-americano colocou Ruanda, Tanzânia e Uganda sob avaliação. O Quênia ficou de fora. A Tanzânia e Uganda prometeram, então, reduzir ou eliminar as barreiras à importação de roupas usadas. No entanto, Ruanda não estava disposto a mudar a sua postura.

Lutando para competir

Até a década de 1980, as indústrias de vestuário do leste da África prosperavam, produzindo roupas e calçados para os mercados interno e externo. Mas as políticas de liberalização do comércio, encabeçadas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, abriram as economias africanas para novas importações baratas, especialmente de países asiáticos. Fábricas locais lutaram para competir e, com o tempo, muitas fecharam. A mesma coisa aconteceu no Brasil e outros países. O maior beneficiado nisso foi a China.

A proibição de roupas usadas é a mais recente tentativa de fortalecer a moda de Ruanda pois a indústria têxtil é a primeira a ser instalada quando se quer iniciar a industrialização de um país e gerar muitos empregos. Mas especialistas e líderes do setor dizem que a política por si só não é suficiente para aumentar os negócios domésticos e aumentar a demanda local pois os ruandenses não têm dinheiro suficiente para comprar coisas novas

Sem controlar também o influxo de roupas novas vindas da China, há pouco incentivo para comprar tecidos ou roupas locais. Mesmo que as roupas estrangeiras fiquem mais caras, elas custam menos do que as roupas “Made in Ruanda”. Num post anterior falei de como as doações de roupas usadas estão destruindo a indústria da moda africana.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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