A ciência pode melhorar o futuro da moda? Essa tem sido a questão motriz por trás da busca de novos materiais sustentáveis. É uma busca que reuniu cientistas, marcas e até o Exército dos EUA , pesquisando e desenvolvendo o potencial para um campo totalmente novo, o de biossintéticos têxteis. Usando a engenharia genética, os pesquisadores desenvolveram de tudo, desde fibras de bicho-da-seda fluorescentes até tecidos de E. coli.
As fibras de biologia sintética são um mercado lucrativo. A Bolt Threads, uma startup de ciência de materiais fundada em 2009 e responsável por tecidos feitos como seda de aranha produzida em laboratório, foi recentemente avaliada em US $ 700 milhões. Mas um novo relatório chamado “Genetically Engineered Clothes: Synthetic Biology’s New Spin on Fast Fashion” foi divulgado pela empresa de vigilância tecnológica ETC Group e pela Fibershed, desenvolvedora de tecidos naturais, detalhando como o uso de tecidos “biossintéticos” geneticamente modificados poderia prejudicar as cadeias de fornecimento e substituir a produção de fibras naturais.
Detalhando como o uso de tecidos biossintéticos poderia perturbar globalmente as cadeias de fornecimento e deslocar a produção de fibras genuinamente naturais, o relatório desafia a ideia de que esses desenvolvimentos científicos são de fato nossa melhor opção para uma indústria de moda sustentável. De fato, como demonstra o relatório, a dependência dessas novas fibras pode levar a graves consequências para o setor. “As abordagens de alta tecnologia, incluindo as fibras geneticamente modificadas da biologia sintética, não necessariamente freiam o fast fashion e podem ampliar os efeitos mais danosos da produção industrial têxtil”, escrevem os autores do relatório.
Em particular, o relatório examina as falsas promessas e alegações não comprovadas que acompanham a chamada “seda de aranha”, bem como o tecido Sorona, da DuPont, produzido por bioengenharia. Sorona contém no máximo 37% de fontes biológicas renováveis, o restante é TPA derivado de petróleo. Além disso, Sorona não é biodegradável nem compostável, contribuindo assim para a poluição de microplásticos.
Sorona é feito a partir de amido de milho cultivado industrialmente, gerando impactos ambientais negativos por ser uma monocultura que necessita de muitos químicos. Apesar de ter sido promovido como uma opção “verde”, as fibras biossintéticas feitas por empresas como Bolt Threads também dependem de matérias-primas industriais como o açúcar.
Além das interrupções na cadeia de fornecimento, o relatório “Roupas Geneticamente Projetadas” chama a atenção para as possíveis novas formas de resíduos biológicos criadas pelos microorganismos projetados para produzir os novos materiais. O “resíduo B”, por exemplo, um subproduto de microrganismos encontrados na produção de roupas geneticamente modificadas que nunca foram despejadas no meio ambiente, pode ser difícil de descartar com segurança e cria riscos de novos microrganismos se espalhando pela água e pelo ar.
O questão levantada pelo relatório é que a produção de fibras geneticamente modificadas é arriscada e poderia perpetuar uma agricultura industrial insustentável e intensiva em pesticidas. O maior receio é que as fibras biosintéticas tirem mercado das fibras naturais e não das fibras sintéticas feitas de petróleo, que são mais baratas. O relatório completo está disponível aqui.
interessantíssimo, Renato !!!!!