Todos nós sabemos da importância das frutas para nossa saúde e por isso as utilizamos como sobremesa. Mas e se elas também forem utilizadas para fabricar tecidos? Os resíduos agrícolas de frutas como banana, abacaxi, laranja, maracujá, coco entre outras, podem ser convertidas em tecidos para vestuário, decoração, não-tecidos e outros usos industriais. Abacaxis são ricos em lignina e celulose. No fruto apenas 52% é usado para fins comestíveis como sobremesas, geleias, sucos e compotas, e os restantes 48% são despejados como resíduos orgânicos.
Fibras extraídas do desperdício dos frutos do abacaxi podem ser misturados com algodão, poliéster ou seda para fazer tecidos com uma textura macia. Estas fibras são chamados de “piña”, que em espanhol significa abacaxi. Neste post vou mostrar como as fibras do delicioso abacaxi podem através de uma nova tecnologia, se tornar um recurso valioso para a moda.
Quando pensamos em roupas, pensamos nas cores, modelagem e em tecidos com toque macio e confortável como linho e algodão por exemplo. Embora estes tecidos sejam agradáveis, não seria divertido tentar algo diferente? O desejo constante dos estilistas de produzir materiais de moda inovadores e principalmente sustentáveis levou-os a descobrir o sofisticado tecido piña tradicional das Filipinas. Na verdade, o termo certo é re-descobrir, em vez de descobrir, porque o tecido piña tem existido por um longo tempo.
Feito a partir das folhas da variedade espanhola do abacaxi vermelho ou (Ananas bracteatus), o “Piña”, foi trazido nas Filipinas pelos espanhóis e com um decreto franciscano de 1580, o tecido de piña foi incentivado, bem como bordados, para aperfeiçoar as habilidades e talentos dos nativos. A tecelagem do Piña atingiu o seu pico de perfeição no final do século XVIII, quando se tornou um dos mais procurados tecidos feitos à mão. Ele era conhecido por ser adequado para o clima tropical, e oferecia uma suavidade mais refinada durante a era do romantismo.
Apesar de ter sido popular entre os aristocratas da época, o piña perdeu o brilho quando o tecido feito de algodão foi introduzido em meados da década de 1980. Assim o belo tecido piña acabou por morrer, pois não foi capaz de competir com o tecido de algodão que é muito mais barato e largamente disponível no mercado.
O tecido Piña foi originalmente usado nas Filipinas para camisas masculinas, e é chamado de Barong Tagalog. Por causa de sua aparência naturalmente translúcida,brilhante e elegante, ele se destacou como um símbolo de status do usuário, porque só os ricos podem se dar ao luxo de possuir um Barong Tagalog de puro piña feito artesanalmente.
A fibra do abacaxi tem a textura mais delicada do que qualquer outra fibra vegetal. Ela tem cerca de 60 cm de comprimento e é branca, sedosa e brilhante como a seda, e pode facilmente ser tingida com corantes. Ao longo do tempo, no entanto, a utilização do tecido piña se ampliou e as mulheres agora usam vestidos formais, chales, vestidos de casamento, blusas e outros trajes feitos de piña. E, ultimamente, não apenas os filipinos estão usando.
Quando os estilistas filipinos e internacionais começaram a usar o tecido piña em suas criações, muitos estrangeiros se interessaram em vestir roupas feitas de piña. O estilista de alta costura Oliver Tolentino, que vestiu celebridades como Carrie Underwood e Maria Menounos, estava entre os estilistas filipinos que criaram roupas de piña para os holofotes da moda internacional.
Outros estilistas filipinos que exploram a beleza e exclusividade do piña são Paul Cabral, que vende suas Barong Tagalog masculinas para diversas personalidades mundiais e a estilista Ditta Sandico, que utiliza as fibras das folhas do abacaxi juntamente com a parte interna do caule do abacá (bananeira nativa das Filipinas) em suas coleções de moda feminina que lembram mais as roupas esculturais do estilista japonês Issey Miyake. Veja algumas das “esculturas vestíveis” de Ditta aqui.
O renascimento da indústria do piña
Com o interesse cada vez maior dos estilistas filipinos e internacionais em usar tecidos sustentáveis, os tecelões de piña viram a chance de um renascimento da indústria. Na verdade, eles começaram a tecer novamente, embora muitos não estão trabalhando nisso ainda. Eles têm visto um aumento gradual na demanda da indústria têxtil. Sua disponibilidade não é mais exclusiva de boutiques e algumas lojas de departamento estão agora desenvolvendo coleções de piña. Essa demanda crescente criará mais emprego e renda para a população rural e tecelões das Filipinas.
O que torna o tecido piña único? O tecido piña tem as seguintes características:
● é leve;
● a sua aparência é semelhante ao linho;
● é naturalmente brilhante com alta lustrosidade e ele não precisa de ser reforçado sinteticamente;
● o material é macio e fino;
● tem mais textura em comparação com seda;
● é translúcido ;
● piña combina bem com outras fibras;
● é lavável á mão e fácil de cuidar;
● piña utilizar apenas ervas naturais e plantas para adicionar mais cor no tecido.
Mais importante ainda, o abacaxi é uma fonte sustentável pois leva 18 meses para amadurecer e estar pronto para a colheita. A maioria dos agricultores aumentam seus abacaxis organicamente porque essas plantas crescem melhor em solo que não são tratados com pesticidas e fungicidas químicos.
Atualmente, o tecido de piña puro é consideravelmente caro em comparação com outros produtos têxteis, porque a sua produção é bastante complexa e demorada, como se pode ver no vídeo acima. Ele leva mais de 8 horas para produzir apenas um quarto de um metro de pano. Os tecelões filipinos tem uma maneira de tornar o tecido menos caro entrelaçando o piña com outras fibras como seda, algodão ou abaca, sem comprometer a qualidade, mas isso ainda não é o suficiente. Ficar dependente da mão de obra de tecelões filipinos torna difícil a produção em escala global.
Roupas feitas por estudantes de moda nas Filipinas utilizando tecidos de fibra de abacaxi e abaca.
A planta do curauá é um vegetal herbáceo, natural da Amazônia brasileira, que está sendo propagado de forma racional para produção de fibra têxtil de excelente qualidade. Este vegetal atinge cerca de 1,5 metros e apresenta raiz superficial e fasciculada. Suas folhas, produtoras de fibra, são eretas, coriáceas, medem em média 5 cm de largura por 0,5 cm de espessura e 150 cm de comprimento. Com o interesse cada vez maior das marcas de moda por novas matérias primas sustentáveis, é questão de tempo para que a fibra do abacaxi e do curauá comece a ser utilizado em larga escala pela indústria têxtil.
[…] has also been shown in many sustainable fashion platforms – from relevant Brazilian pages as Stylo Urbano and Razões para Acreditar, through Spain and Germany at Slow Fashion Next , La Razón, Textile […]