Fibras de plástico poluem nosso ecossistema e nunca se decompõem, mas os devotos da moda vegana acreditam que estão “salvando o planeta” ao trocar pele animal por pele sintética. Como podem ser sustentáveis roupas de pele falsa feitas inteiramente de fibras de poliéster, que são um subproduto da indústria do petróleo? Proibir produtos animais em roupas é complicado. Marcas de moda e até mesmo cidades (principalmente Los Angeles e São Francisco) estão assumindo uma posição dura ao eliminar a produção e a venda de peles, citando pedidos do consumidor, crueldade contra os animais e padrões de sustentabilidade.

Versace, Gucci, Armani, Michael Kors, Burberry, Chanel, Jimmy, ASOS entre outras marcas famosas, se comprometeram a projetar e produzir moda sem o uso de alguns ou todos os produtos de origem animal, ou seja, pele ou couro em nome da sustentabilidade e ética. De um lado, organizações como a PETA e a Humane Society elogiam essas marcas, observando que os animais são torturados em todos os níveis de produção de peles e couro. Mesmo que esses animais não sejam realmente mortos em nome da moda, eles quase certamente serão esfaqueados, presos em gaiolas e criados apenas para servir aos humanos.

Por outro lado, o Fur Information Council of America (FICA) diz que a pele é uma das indústrias mais regulamentadas que existem (FICA cita a eficácia de práticas impostas pelo Estado e sua evitação de espécies ameaçadas). Argumenta-se que as peles artificiais são, na verdade, o maior problema ambiental: os métodos e materiais usados ​​para fabricar peles artificiais estão cheios de venenos petroquímicos, que poluem a terra, o ar e os oceanos, contaminando e matando os próprios seres vivos. Não existe no mercado pele falsa sustentável e biodegradável. Promovê-las como uma “alternativa melhor” por ser “livre de crueldade” é um completo absurdo! Contaminar com trilhões de microplásticos todo ecossistema e nossa cadeia alimentar não é crueldade?

Os veganos não usam peles reais porque acreditam que, muitas vezes, os animais são tratados com crueldade e explorados, no entanto, os tecidos alternativos usados ​​para peles artificiais nunca são biodegradáveis e soltam grande quantidade de microplásticos.

De acordo com a Vegan Society, o veganismo é um modo de vida que procura excluir, na medida do possível, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais, não apenas para comida, mas também para roupas e qualquer outra finalidade. Ao entrar nesse mercado, a Marks & Spencer anunciou que lançaria uma série de sapatos veganos com 350 estilos para homens, mulheres e crianças. E a empresa está longe de estar sozinha em responder à crescente demanda por moda amiga dos animais.

A rede de fast fashion ASOS proibiu seus fornecedores de usar materiais derivados de animais, incluindo mohair, seda e peles, e nesse mês em Los Angeles, começará a primeira Vegan Fashion Week. Tudo bem em teoria, mas quanto ‘livre de culpa’ são os materiais veganos sendo usados ​​no lugar dos tradicionais, de origem animal? Tome a pele falsa, por exemplo. Ela deveria ser rotulada de “plástico” para conscientizar os consumidores sobre o que estão comprando.

Muitas grandes varejistas e marcas removeram peles de animais de seus produtos, mas simplesmente as substituíram por plásticos feitos a partir de combustíveis fósseis que nunca se biodegrada, e são usados para fazer lã sintética. Lavar o material solta as microfibras de plástico, que acabam nos oceanos do mundo. As minúsculas fibras, mais finas que um cabelo humano, são então comidas por plânctons, mariscos e peixes, e podem ser consumidas pelos seres humanos.

E os sapatos veganos? Claro, eles podem não conter couro, mas um a Marks & Spencer,  eles são feitos de uma mistura de “materiais sintéticos”, incluindo poliuretano e poliéster. Em outras palavras, mais plástico. Existem problemas semelhantes com os materiais usados ​​para substituir a lã. A maioria das substituições tradicionais são baseadas em plástico, como acrílico e poliéster.

Ativistas dizem que a tosquia de ovinos é uma forma “abusiva” de se obter a lã, o que torna o material inadequado para veganos. Então a saída é utilizar lã feita de petroquímicos pois não tem outro substituto.

Os veganos implicam com a seda porque envolve a morte de bichos da seda, mas seu substituto sintético, o rayon, utiliza um coquetel de produtos químicos tóxicos que tem sido responsabilizados por envenenar trabalhadores e acabar com cursos d’água globalmente. É por isso que alguns especialistas alertam os consumidores para não presumir que estão “salvando o planeta” simplesmente comprando uma peça de roupa vegana.

“Enquanto os sapatos, roupas e tecidos veganos são ótimos, não devemos confundir os veganos com sendo sempre amigos do ambiente ou até amigáveis”, diz Rachelle Strauss, ambientalista e fundadora da campanha anual de conscientização Zero Waste Week. No mercado existem várias marcas de moda vegana que só utilizam matérias primas verdadeiramente éticas e sustentáveis, mas outras marcas que se vendem como veganas utilizam materiais feitos de petroquímicos.

O perigo está se o termo “vegano” for usado como uma forma de vender uma moda mais rápida e barata. Se isso acontecer, haverá um custo ainda mais baixo, seja mão-de-obra barata ou o uso de plásticos baratos que, em algum momento do processo de fabricação, provavelmente usem produtos químicos tóxicos. Se é errado matar animais para obter pele e couro, também é errado matar peixes, pássaros e outras criaturas com a poluição causada na fabricação desses materiais sintéticos, e o fato de que, uma vez desgastados e descartados, nunca serão biodegradáveis?

Um casaco de lã, por exemplo, é provável que seja usado por mais tempo do que um sintético e, durante sua vida útil, não irá soltar microfibras de plástico para o oceano. A esperança é que os materiais futuros resolvam esses problemas. Algumas inovações já exitem como “couros” feitos de folhas de abacaxi, cogumelos e cortiça, seda artificial cultivada em laboratório e a cada dia surgem mais novidades. Saiba mais aqui e aqui.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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