A moda sustentável e teares manuais tem tudo a ver. Na Índia, Filipinas, Marrocos e outros países da Ásia e Oriente Médio, os teares manuais testemunharam um grande renascimento devido a parcerias com marcas de slow fashion. As práticas ecológicas têm direcionado a indústria da moda para um ambiente mais verde.
E enquanto iniciativas pontuais são um impulso, existem alguns designers que estão agitando as coisas no âmago, optando pelo caminho sustentável logo no início de suas carreiras, reduzindo a lacuna entre a base e o glamour. A Índia tem o maior número de tecelões de teares manuais do mundo, cerca de 4,5 milhões, e uma herança extremamente rica em produtos de teares manuais. A Índia é o segundo maior fabricante têxtil e vestuário do mundo e essa indústria é um dos pilares da economia indiana.
A Índia é o maior produtor de algodão orgânico do mundo, e os tecelões tem explorando vários ouros tipos de fibras vegetais como cânhamo, linho, bananeira, abacaxi, urtiga e juta, para produzir tecidos artesanais. Vários marcas de slow fashion da Índia, Europa e Estados Unidos, estão optando por utilizar somente tecidos feitos em tear manual.
A importância dos teares manuais
No setor têxtil, para atender às mais diversas necessidades, há espaço suficiente para a coexistência de teares mecânicos e teares manuais. As máquinas mais modernas podem coexistir com teares manuais. No entanto, os teares manuais merecem ter um lugar de destaque na indústria têxtil.
Entre os pontos fortes do tear manual, estão as várias combinações possíveis com designs complexos. As propriedades funcionais como drapeado, textura, força, resistência ao enrugamento, estabilidade dominante etc. podem ser engenhosamente manipuladas por meio de designs apropriados, tipos exclusivos de tecidos usados, contagens e torções de urdiduras e fios, densidade espessa, tipo de tecido, tipo de moda e processo empregado na impressão.
Muitos tipos de roupas são mais bem tecidas em teares manuais. As roupas feitas de um material extremamente fino, ou seja, a contagem de fios com 100s ou mais, que são delicadas, podem ser tecidas com mais segurança no tear manual devido à relativa leveza dos solavancos. Os teares manuais são perfeitamente adequados para esse tipo de trabalho, e além disso, tem a vantagem de produzir tecidos em pequena quantidade. O que não acontece com o tear industrial.
Roupas com desenhos multicoloridos em que a trama deve ser trocada com muita frequência são mais adequadas para teares manuais. Roupas com enfeites na barra, na gola, e corpo inteiro com desenhos delicados em várias cores que exigem esquemas individuais, podem ser tecidos idealmente em teares manuais.
Tear para o luxo
Os materiais orgânicos e métodos sustentáveis não atuam apenas como catalisadores econômicos, mas também trazem transparência aos negócios e apoiam a subsistência de tecelões, artesãos e até mesmo agricultores. As cidades estão superpovoadas, a competição e a superlotação criam tensão. Aumentar a força das economias rurais faz muito sentido para as marcas de slow fashion em muitos níveis.
Há uma onda de mudanças na indústria da moda e a sustentabilidade está se tornando a norma. À medida que a individualidade assume a liderança, surge um novo consumidor, aquele que procura a união entre o antigo e o moderno, buscando uma alternativa a moda massificada, repetitiva e poluente do fast fashion.
Marcas de slow fashion que adotaram o tear manual
Os designers Mia Morikawa e Shani Himanshu da marca indiana 11.11 / onze onze, consolidaram as raízes de sua marca no espaço de luxo com um método orgânico. Sua abordagem de ponta a ponta para fazer roupas gera capital humano, com uso zero de maquinário e eletricidade, resultando na menor produção de resíduos industriais. “Desde o lançamento de nossa linha 100% feita à mão em 2013, temos sido guiados pelo desejo de criar conscientemente”, diz Morikawa.
A marca agora é sinônimo de jeans khadi, onde o jeans fiado à mão é feito de 100% de algodão khadi e tingido em índigo natural. O algodão utilizado é 100% algodão orgânico nativo, cuja produção é um processo ambientalmente consciente e uma alternativa viável às práticas agrícolas que requerem irrigação e produtos químicos. A marca explora a impressão em bloco como técnicas de embelezamento, continuando com sua estética pintada à mão sempre em evolução.
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As empresas sociais Enviu (India) e Sympany (Holanda), viram uma oportunidade de negócio com a reciclagem em grande escala de resíduos têxteis em tecidos de vestuário através de artesanato. E em 2015 nasceu o conceito Khaloom, uma empresa têxtil circular com sede em Bangalore que oferece tecidos de alta qualidade 100% reciclados feitos pela tradicional tecelagem manual indiana chamada Khadi.
Esta empresa social oferece uma solução para o grande volume de resíduos têxteis, além de dar oportunidades aos artesãos de teares manuais na Índia. O Khaloom não só evita o desperdício de têxteis, como também cria emprego para os artesãos indianos, que produzem tercidos artesanais para diversas marcas de moda na Europa, Índia, Japão, Oriente Médio e Estados Unidos.
Lemlem é uma marca de slow fashion que fabrica roupas femininas, masculinas, infantis e acessórios feitos por artesões na África. A supermodelo Liya Kebede se inspirou para lançar a marca após uma viagem à sua terra natal, a Etiópia, onde conheceu um grupo de tecelões tradicionais que não tinham mais mercado para seu artesanato.
Com a intenção de promover o trabalho dos artesãos, Liya está empenhada em elevar o artesanato e expandir a produção e os empregos em toda a África. A coleção principal é tecida à mão com algodão natural na Etiópia e a Lemlem está constantemente expandindo parcerias com outros grupos de artesãos em toda a África.
As mulheres estão no centro da Lemlem e a marca está empenhada em ajudá-las a prosperar tanto em suas oficinas quanto além, por meio de seu apoio à Fundação Lemlem. A marca fez uma coleção capsula para a H&M.
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Cada peça da marca americana The Handloom é feita à mão com artesanato tradicional, capacitando os artesãos de aldeias remotas da Turquia. A marca se esforça para criar uma mudança positiva em direção a um futuro mais sustentável, tomando medidas para proteger o meio ambiente e respeitar os processos éticos. Toda coleção é criada em Los Angeles e os tecidos feitos em teares de madeira por tecelões turcos.
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Priyanka Ella Lorena Lama é uma emergente estilista indiana. Aos 23 anos, ela foi lançada pela Gen Next Designer, uma plataforma altamente cobiçada para designers emergentes pela Lakme Fashion Week da Índia. Priyanka criou PELLA, uma marca artesanal impulsionada conceitualmente pelo slow fashion, incorporando zero desperdício de criação de padrões criativos na construção e design de roupas.
Todas as peças são feitas a partir de um único bloco de tecido, sem zíperes ou botões para fechar, a não ser por uma faixa na cintura, para criar um potencial ilimitado em silhuetas. Fiel ao uso de tecidos feitos à mão, de sedas a cashmeres e tramas de urtiga, cada peça é meticulosamente enrolada à mão e com bainha invisível a olho nu para obter um design sem limites. É uma etiqueta 100% costurada à mão, criando designs sem o uso de máquinas, diz a jovem estilista.
A marca House of Wandering Silk tem seu estúdio em Nova Delhi, mas trabalha com produtoras e artesãs marginalizadas de diferentes países como Afeganistão, Paquistão, Laos, Uzbequistão e Camboja. Eles usam materiais feitos à mão e reciclados para criar belas roupas, acessórios e joias.
A marca faz pesquisas meticulosas para identificar artesãos de lugares diversos e remotos, entende suas habilidades e, em seguida, projeta produtos com base em suas necessidades e aptidões. Portanto, seus produtos nunca são baseados em tendências, mas defendem valores muito maiores, como apoiar as comunidades locais, promover o artesanato indígena e preservar o meio ambiente.
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A marca de moda sustentável Milo + Nicki investe num material pouco utilizado para fabricar roupas: fibra de bananeira! A fibra extraída do pseudocaule é extremamente durável, sua textura se assemelha ao cânhamo e bambu, e faz um tecido altamente suntuoso e luxuoso. O pseudocaule é descartado no campo após a colheita do cacho de banana.
E claro, a fibra é biodegradável, de comércio justo, sem uso de pesticidas, precisa de muito menos água do que o algodão e é quase neutra em carbono para produzir. O tecido de banana da marca é tecido à mão e tingido à mão com corantes à base de plantas por artesãos na índia.
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A marca Marrakshi Life, criada pelo fotógrafo Randall Bachner, está na vanguarda da moda unissex / andrógina e lidera o caminho em práticas sustentáveis e do slow fashion, com todas as peças de vestuário feitas sob encomenda. Uma marca para agora e para o futuro, usando tecidos locais de mistura de algodão, produzidos em tear manual no norte da África.
A marca adota conforto e artesanato. Tomando os principais elementos de estilo do guarda-roupa tradicional marroquino, uma equipe interna de artesãos locais ajuda a criar peças de design originais e contemporânea. Utilizando a habilidade das práticas tradicionais de tecelagem marroquinas e o desejo de levar adiante essa herança sartorial, a Marrakshi Life utiliza técnicas tradicionais para criar roupas autênticas, mas com um estilo urbano moderno.
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A indústria artesanal é a maior empregadora de mulheres no mundo, mas muitas artesãs lutam para vender seus produtos a um preço justo, ou mesmo, devido à saturação de cópias falsas no mercado vendidas por diversas marcas de moda de luxo ou de fast fashion. Depois de viajar pelos Andes peruanos e entrevistar milhares de artesãs sobre os desafios impostos pela produção em massa, a designer e artista Jasmine Aarons fundou a VOZ, uma marca de moda ética de luxo que celebra a cultura e a visão de artesãs indígenas rurais.
A empresa fornece recursos, liderança de design e treinamento para seus parceiros artesãos, capacitando as mulheres de forma econômica, criativa e cultural, permitindo que vendam seus produtos no mercado global a preços competitivos. VOZ trabalha principalmente com artesãs em Temuco, no Chile, mas se expandiu para colaborar com artesãs de Puno no Peru e em Tangail na Índia.
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Desconheço marcas de roupas no Brasil feitas inteiramente em tear manual, mas existem marcas que utilizam tecidos de tear em algumas peças da coleção. Uma delas é a marca paulistana Sissa, criada por Alessandra Affonso Ferreira, para dar um destino sustentável para seu lixo têxtil. É nos teares manuais de Muquém, bairro rural do município de Carvalhos, no sul de Minas Gerais, que os retalhos da grife são transformados em novos tecidos, que, de volta ao seu ateliê, são a base de roupas e acessórios especiais.
O projeto tornou-se a assinatura da SISSA, com um design elegante e contemporâneo. Alessandra apelidou seu tecido artesanal de Muquém, e por se feito em tear manual com sobras têxteis da marca, cada produto é único. Nada é desperdiçado, organizados por cores e padronagens, os retalhos são introduzidos um a um nos teares de madeira onde levarão dias para serem tramados manualmente em novos tecidos. Desde que o projeto nasceu, já foram produzidos mais de 1.600 metros. No ateliê da estilista, em São Paulo, a nova matéria-prima vira pochetes, bolsas-saco, espadrilhes, vestidos, saias e blusas.
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Existem algumas marcas de bolsas e calçados nacionais que utilizam tecidos artesanais. Uma delas é a Trópicca, que surgiu em 2015 com uma iniciativa pessoal para valorizar e repaginar o trabalho feito à mão. A marca utiliza tecidos feitos por artesãos de Carmo do Rio Claro, interior de Minas Gerais, em suas bolsas, calçados e cangas.
Os calçados são produzidos em Jaú-SP e bolsas em Pratânia-SP, duas cidades que sofreram muitas perdas com a industrialização em massa e entrada de produtos chineses. Outro pilar importante da Trópicca é a escolha das matérias-primas, toda cadeia de fornecedores é nacional e priorizam a utilização de produtos que minimizam nosso impacto ambiental, como reaproveitamentos de fitas de VHS (filmes antigos), fibras recicladas ou descartadas pela Indústria Têxtil, fibras naturais como a juta (fibra sustentável da Amazônia) e ainda, o uso de palmilhas de látex biodegradáveis.
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Num ambiente acolhedor tendo como cenário a exuberante Serra do Sambê em Rio Bonito- RJ, as artesãs do grupo Ecopolo Tecelagem Manual tecem fios e linhas pra dar forma a produtos de grande beleza e colorido como bolsas, tapetes e almofadas. O Ecopolo foi criado em 2000 como um dos projetos da Associação Pró-Cidadania Vida e Desenvolvimento, ONG voltada a ações pela cidadania e com o objetivo de mitigar as diferenças sociais.
Surgiu da parceria entre a ONG e o SEBRAE-RJ, a Fundação Rotary Internacional e a Prefeitura Municipal de Rio Bonito. Há 20 anos desenvolvem bolsas, acessórios e produtos da Linha Home em tecelagem manual, e estão sempre em busca de criar e desenvolver produtos que aliem beleza com sustentabilidade.
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A PuraMixtura é um coletivo de artesãs do Rio de Janeiro reunidas desde 2006, trabalhando com tear manual na utilização de materiais reciclados. Elas criam bolsas com texturas utilizando materiais de forma harmoniosa e sustentável, contribuindo para o fortalecimento das relações e na geração de renda do grupo. A PuraMixtura trabalha promovendo a inserção através do artesanato valorizando o meio ambiente.
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No Brasil o tear manual é mais utilizado na produção de tapetes, pufes, redes, colcha de cama, cortinas, pano de prato, almofadas, jogo americano e mantas. A Trapos & Fiapos é um exemplo. É uma fábrica, que tece à mão, no tear de redes, algodão e fibra natural (Taboa, Buriti) peças únicas personalizáveis e exclusivas, há 35 anos.
Fundada em 1984, conta a história de transformação do povoado de Santa Rita, no Piauí, nordeste do Brasil, que descobriu na tecelagem uma forma de renascimento. Deste viés social e cultural surgiu a Trapos & Fiapos, com conceito inovador de produção ao desenvolver uma tapeçaria singular. Fincada na sustentabilidade, olha com atenção tanto para quem faz, quanto para quem recebe e hoje é referência no segmento de tecelagens feitas à mão.