A magia dos cogumelos tem inspirado a humanidade por milênios, onde várias civilizações do passado utilizaram esses fungos para rituais xamânicos, medicina e culinária. Esses fascinantes organismos vivos podem ser comidos como alimento, bebidos como chá, consumidos como remédio e corantes. Mas uma startup de San Francisco chamada MycoWorks, tem outros planos mais “fashionistas” para os cogumelos, utilizando a biofabricação para crescer um material parecido com couro animal através dos fungos.
O ingrediente chave da MycoWorks é o micélio, os microscópicos fios de um cogumelo que parecem raízes e se fixam e colonizam diferentes superfícies. Como uma fibra natural, o micélio é particularmente atraente porque pode ser cultivado e manipulado em várias texturas e formas, de acordo com americano Phil Ross, o diretor técnico da MycoWorks.
“Os fungos são muito sensíveis; eles mudam seu crescimento em relação à forma que foram condicionados”, diz Ross. “Se você os colocar num copo, eles tomam a forma do copo.”
Como artista e cozinheiro, Phil Ross começou a coletar cogumelos no final de 1980 para os vários restaurantes onde trabalhou, e mais tarde foi inspirado pelos livros do especialista em cogumelos Paul Stamets, estabelecendo seu próprio laboratório para crescer fungos e começar a experimentar com micélio. Ele descobriu que se insistisse o suficiente, poderia persuadi-lo a crescer em diferentes formas, e que através da adição de produtos químicos orgânicos em diferentes fases do processo de crescimento, ele poderia mudar a aparência do material resultante.
Várias empresas ficaram sabendo de seus esforços e começaram a se aproximar dele, então Ross decidiu iniciar a MycoWorks em 2013 com seus amigos Sophia Wang e Eddie Pavlu para experimentar as possibilidades do micélio.
Seu primeiro grande projeto foi a criação de tijolos de “madeira” feita a partir de cogumelos, mas a equipe achou o mercado de construção difícil de entrar. Depois que várias marcas de moda mostraram interesse em seu trabalho, a equipe de Phil Ross encontrou uma maneira de reformatar seu material em uma folha, semelhante ao couro animal. O material da MycoWorks é feito de micélio puro.
A empresa cresce principalmente o Ganoderma lucidum, também conhecido como o cogumelo reishi, um fungo popular na Ásia que é comumente usado em remédios naturais e chás. Eles escolheram esta espécie porque sua bioquímica é muito segura para o consumo humano. Os cogumelos Reishi também são relativamente fáceis de cultivar. Na natureza, eles crescem principalmente em madeira morta ou em decomposição, quebrando a lignina para sugar os nutrientes na celulose. Esses compostos também são facilmente acessíveis em resíduos de biocombustíveis e resíduos agrícolas, como serragem, sabugo de milho e cânhamo, que a MycoWorks usou para produzir seus cogumelos.
Para transformar o micélio num material parecido com couro, a MycoWorks usa um processo de biofabricação que pode ser ajustado de acordo com as especificações do cliente. Por exemplo, eles podem alterar a nutrição do cogumelo em diferentes fases do seu ciclo de vida. Eles também podem ajustar a temperatura, luz, umidade e níveis de gases no ambiente do cogumelo, ou aplicar óleos essenciais ou de outros métodos orgânicos para alterar a forma como o tecido se desenvolve.
Ainda existem alguns desafios a serem superados pela MycoWorks para que seu couro 100% sustentável possa ser fabricado em massa. A empresa está testando quanto tempo o material pode durar e está pesquisando óleos conservantes e outros agentes utilizados no processo de curtimento tradicional.
Eles continuam a experimentar uma forma de aumentar a produção, e segundo Phil Ross, eles podem produzir uma pele de micélio com 2,5 metros quadrados em duas semanas. A imagem abaixo mostra as qualidades sustentáveis do couro de micélio comparado com outras versões no mercado. Ele é até mais sustentável que o couro produzido em laboratório com células de animais da Modern Meadow que mostrei neste post.
Eles esperam sofisticar mais o material para que possam produzir de forma eficiente milhões de metros quadrados a cada ano, e talvez até mesmo construir instalações em outras cidades. A MycoWorks já está trabalhando com designers para moldar o micélio segundo suas necessidades. Ross gosta de dizer seu material é “programável”, porque ele pode ser manipulado por uma miríade de usos, incluindo vestuário, acessórios, móveis e, possivelmente, até mesmo eletrônicos.
Uma fábrica no estado de Nova York está fabricando móveis com fungos, parte de uma tendência para uma manufatura mais sustentável. O jovem campo da biofabricação com micro-organismos é ainda mais uma promessa do que produtos reais mas tem futuro. O video abaixo mostra como os fungos estão sendo utilizados em novas embalagens biodegradáveis que protegem coisas frágeis como moveis, garradas de bebida, alimentos, eletrônicos e o meio ambiente. O futuro é da biofabricação!