Roupas feitas de madeira ou de tecidos reciclados, definitivamente são uma tendência crescente, demonstrando grande potencial e um futuro brilhante para a indústria têxtil. Devido a crescente demanda por processos de fabricação mais sustentáveis, novas tecnologias em fibras naturais e recicladas para a indústria têxtil está atraindo o interesse global. Os volumes de produção de algodão convencional e poliéster virgem não podem continuar a crescer devido ao grande volume de água e poluição que causam.
Embora os tecidos artificiais de viscose e o rayon são feitos da polpa da madeira, sua fabricação também é problemática por causa dos produtos químicos altamente tóxicos utilizados na produção. Por outro lado, o liocel é uma fibra de alta qualidade cuja fabricação usa menos energia que a viscose e rayon, e o seu agente dissolvente de polpa de madeira não é tóxico e é reciclável. O maior mercado da indústria de celulose continua a ser a fabricação de papel mas a celulose solúvel está sendo cada vez mais utilizada na indústria têxtil como uma alternativa ao algodão e poliéster.
Pesquisadores do Centro de Pesquisa Técnica VTT e da Universidade Aalto na Finlândia, desde 2013 vem desenvolvendo um novo processo para transformar a celulose em uma fibra têxtil de alta qualidade utilizando líquido iônico. Além de ser mais ecológico do que o processo utilizado na produção de viscose tradicional, a fibra têxtil produzida com a ajuda de solventes iônicos é bem mais forte do que a viscose. A tecnologia se chama Ioncell a qual mencionei num post anterior e é um dos exemplos de bioeconomia.
A demanda por celulose solúvel para tecidos está aumentando globalmente devido ao crescimento populacional e ao aumento da prosperidade, além é claro da grande necessidade de oferece uma alternativa mais sustentável para fabricação têxtil. Com o processo do Ioncell, pode-se também criar fios de alta qualidade misturando polpa de madeira, papel velho e tecidos descartados de algodão. Essa inovadora e sustentável tecnologia deu início ao projeto Relooping Fashion Initative.
Com mais de 70% de sua superfície coberta por florestas, a Finlândia é de longe, o país da Europa com maior número de árvores. Desde cedo os finlandeses são acostumados a passar parte de seu tempo junto a natureza, tornado-a parte de sua vida cotidiana, e é por isso que as florestas são a base de sua indústria. Veja como a bioeconomia está moldando o futuro do país no site This is Finland e no documentário “O Futuro da Finlândia“.
A empresa finlandesa Metsä Fibre está investindo no conceito de bioprodutos, onde todos os fluxos secundários de produção de celulose são utilizados em novos produtos e serviços, tais como biogás, materiais biocompósitos e fibras têxteis. A empresa vai inaugurar sua nova fábrica em 2017 para fabricar o fio Ioncell em parceria com a empresa japonesa Itochu Corporation, que tem uma rede de comércio global de fibras e fios, com escritórios em todos os principais mercados têxteis, e assim distribuir em larga escala a nova fibra têxtil de madeira. O Ioncell vai competir com o Tencel.
https://www.youtube.com/watch?v=9s-j3qxyeKk
São fabricados cerca de 100 bilhões de toneladas de tecidos a cada ano, o que é um volume semelhante a produção de papel feito de celulose. Ao mesmo tempo o uso de algodão não pode continuar aumentando para não competir com a terra arável necessária para o cultivo de alimentos e o poliéster virgem por ser feito de petróleo e não biodegradável. Estas condições são favoráveis ao crescimento dos tecidos de celulose à base de madeira.
Este processo do Ioncell definitivamente estende abundantemente o ciclo de vida de fibras naturais! Ele também lida com a diminuição de recursos, aterros, produtos químicos perigosos, dependência direta da terra arável, e consumo de água. Veja a comparação entre o Liocel (LY), Ioncell (IO) e o Algodão (CO):
Hectares necessário por tonelada anual de fibra:
● CO – 1 a 2,5 hect.
● LY – 0,25 hect. (100% da colheita de madeira)
● IO – usa resíduos e 0,15 hect. (madeira adicional)
Água requerida por kg de fibra:
● CO – 20.000 litros
● LY – 500 litros
● IO – 500 litros (baixa temp / frio)
Quantidade de agrotóxicos necessários
● CO – 24% e 11% das vendas globais de inseticidas e pesticidas (aqui)
● LY – Nenhum agrotóxico
● IO – Nenhum agrotóxico
A Universidade de Deakin na Austrália, a Dr Nolene Byrne e doutorando Rasike da Silva desenvolveram um processo simples para separar os componentes individuais das fibras de poliéster e algodão nos tecidos mistos usando líquido iônico. Esse é com certeza “um enorme avanço” para a reciclagem têxtil e de outros resíduos. O maior obstáculo para a reciclagem de roupas velhas e resíduos têxteis é que a maior parte deste material é composto de fibras com mistura entre poliéster e algodão.
Embora seja fácil reciclar algodão e poliéster individualmente, não é possível separar mecanicamente as misturas pois suas fibras estão intimamente unidas em conjunto. Mas isso muda completamente com a introdução do líquido iônico, um solvente químico ambientalmente amigável que separa facilmente as misturas de poliéster/algodão.
Segundo o pesquisador Rasike da Silva: “O líquido iônico dissolve seletivamente o componente de algodão, com a vantagem adicional de que o líquido pode então ser reciclado e reutilizado. Dessa forma o algodão pode ser regenerado e transformado em fibras ou utilizado como películas de celulose, como celofane.”
O poliéster recuperado pode também ser reciclado por fusão e reutilizado de outras formas, tais como garrafas de plástico ou fibras. O novo processo não é limitado a reciclagem de produtos têxteis, mas também pode ser aplicado para a reciclagem de qualquer tipo de material biocompósito, incluindo os utilizados na indústria automobilística, de acordo com os pesquisadores. A reciclagem química via líquido iônico somada a separação magnética inteligente desenvolvida pela Ioniqa Technologies são exemplos perfeitos da economia circular.
A economia circular é um sistema regenerativo e restaurativo por intenção e design, e seu objetivo é manter os recursos (materiais, componentes e produtos) no seu nível mais alto de utilidade e valor pelo maior período de tempo possível. Desta forma, aumenta-se a produtividade dos recursos, preserva-se o capital natural bem como o capital financeiro das empresas e sociedade civil.
https://youtu.be/nfsfgEXOZ0U
Oi Renato!
Aqui é o post perfeito para mencionar que algumas das informações acima são parte de minha pesquisa em reciclagem química de algodão realizada em parceria com a Ioncell-F, realizada para meu mestrado em Moda Sustentável! Tem informação nos meus sites criklamodo.com ou es-fashion.net , e em post anterior aqui… https://www.stylourbano.com.br/que-fruta-voce-esta-vestindo-hoje-fibras-de-abacaxi-se-tornam-tecidos-sustentaveis-para-a-moda/
Mencionar os que proporcionaram a informação é sempre gratificante.