Paris, 22 de janeiro de 2020, o dia do último desfile de alta costura de Jean Paul Gaultier foi um deslumbrante espectáculo de variedades, paródias e exageros. O estilista anunciou que ia deixar as passarelas e prometeu uma “festa e tanto” no seu último desfile. A palavra acabou por ser cumprida no Théâtre du Châtelet, em Paris, França.
Quem teve oportunidade de se sentar no elegante teatro musical não assistiu a um simples desfile, mas sim a um verdadeiro espetáculo com direito a orquestra, cantores ao vivo e cerca de 200 coordenados. Aquele que é conhecido como o “enfant terrible” fez jus à irreverência e criatividade pela qual sempre ficou marcada a sua carreira, ninguém esquece, por exemplo o sutiã em forma de cone que desenhou para Madonna nos anos 90,e cercou-se das suas maiores musas para, após 50 anos de carreira, fechar o maior ciclo da sua vida: o da moda.
Com banda sonora do icônico Boy George, o desfile começou com a representação de um funeral. Um caixão entrou no cenário com dois seios presos na tampa e uma coroa de flores onde podia ler-se: “moda para sempre”. Entretanto foi aberto para revelar a modelo Issa Lish, que desceu a passadeira com um mini vestido branco de mangas bufantes.
Seguiram-se as irmãs Bella e Gigi Hadid, Irina Shayk e Karlie Kloss com propostas repletas de denim, cintos de couro, seda e tule. Mas foram Rossy de Palma, Mylene Farmer, Khelfa, Karen Elson e Estelle Lefebure, ícones dos anos 80 e 90, que mais aplausos receberam. Dita Von Teese, a estrela do burlesco, e a drag queen Violet Chachki também desfilaram.
Antes do espetáculo, Jean Paul Gaultier distribuiu uma nota ao público na qual explicava a coleção que ia apresentar. Depois de lerem as suas palavras, os fashionistas perceberam que, mais uma vez e como fez ao longo da sua carreira, o criador estava a antecipar o futuro desta indústria.
https://www.youtube.com/watch?v=UOZQxCMY9-Y
“Acredito que a moda tem que mudar. Há muitas roupas que não servem para nada. Não as joguem fora, reciclem. Esta noite, vão ver a minha primeira coleção de alta costura ‘upcycling’. Abri as gavetas”, escreveu. Ou seja, numa era em que cada vez mais se fala na importância da sustentabilidade, o enfant terrible é um dos primeiros impulsionadores da moda de alta costura reciclada.
Jean Paul Gaultier tem 67 anos. Aos 18 começou a trabalhar com Pierre Cardin e apresentou a sua primeira colecção individual em 1976. Embora tenha anunciado a retirada da indústria, “Estou demasiado velho para mudar o sistema”, disse aos jornalistas no final do desfile que a sua marca vai continuar.
“Há 50 anos que estou na moda, comecei aos 18 anos – é muito tempo, talvez esteja na hora de descansar… não descansar porque não consigo parar de trabalhar, mas talvez fazer algumas coisas novas.”
JEAN PAUL GAULTIER:
No video a seguir, Jean Paul explica detalhas de seus modelos de alta costura. A legenda em inglês tem tradução para português.