Práticas sustentáveis já não são mais atividades de responsabilidade social, elas são uma necessidade. A lista de eco-atrocidades da indústria da moda é surpreendentemente longa, mas novos conceitos de moda sustentável poderiam reduzir o impacto da indústria sobre o meio ambiente ou até mesmo pará-lo totalmente.
A indústria da moda é atualmente, uma das atividades menos sustentáveis do mundo, e por isso o nosso comportamento com relação ao consumo de moda vai ter que mudar se quisermos alcançar resultados sustentáveis em relação ao nosso estilo de vida atual e das gerações futuras.
Uma coisa constante na moda é a mudança e sazonalmente, as tendências mudam a preferência de cor, silhueta, tecido e muito mais, ditando artificialmente a obsolescência de uma peça de vestuário. Ao longo das últimas décadas, as tendências da moda têm mudado de uma forma super rápida devido aos avanços na tecnologia de produção que encurtaram o tempo que vai do conceito à loja.
Esta aceleração das tendências e sua fabricação rápida é conhecida por muitos como “fast-fashion”. Muitas vezes, as roupas de fast-fashion tendem a serem de qualidade inferior, apenas para serem usadas numa temporada e isso vem causando um imenso problema de descartabilidade nos aterros. A moda hoje é a número um em obsolescência programada superando a indústria de eletrônicos.
O termo “slow fashion” foi cunhado por Kate Fletcher em 2007 (Centro de Moda Sustentável, Inglaterra). O slow fashion não é uma tendência sazonal que vai e vem como uma estampa de bicho, mas um movimento de moda sustentável que está ganhando cada vez mais relevância pelas suas tentativas de diminuir os problemas socioambientais causados pelo fast fashion.
Pelo excesso de rapidez em lançar novas coleções a cada duas semanas nas lojas, o que alimenta o consumismo desenfreado, o fast fashion acabou bagunçando o mercado de moda atingindo até as grifes de alta costura e prêt-a-porter que tiveram que aumentar seus lançamentos anuais de 2 coleções para 4 coleções.
Até Donatella Versace reclamou da bagunça que se tornou o calendário de moda internacional. Os consumidores não precisam comprar novas tendências a cada 2 semanas, como as grandes varejistas de fast fashion querem, mas precisamos dar um passo atrás e reavaliar o que é realmente importante para nós.
O slow fashion é uma alternativa sustentável a essa loucura da moda rápida e descartável mas podemos somar a isso um outro sistema de produção de moda que seja um “meio termo” entre o fast fashion e o slow fashion e esse é o hybrid fashion ou moda híbrida que já falei em posts anteriores (aqui e aqui)
O hybrid fashion se junta ao slow fashion como uma nova alternativa sustentável ao fast fashion mas com algumas características distintas. A moda híbrida foi pensada para aqueles empresários que querem criar uma marca de moda ética e sustentável numa escala maior e com mais diversificação de produtos, o que difere um pouco das marcas de slow fashion.
Vejas as características dos três sistemas de moda:
A moda é um negócio complicado que envolve longas e variadas cadeias de abastecimento e de produção, matérias-primas, fabricação têxtil, fabricação de vestuário, transporte, varejo, uso e eliminação da peça. A pegada ambiental de moda é enorme e isso se torna um desafio devido à imensa variedade de peças de vestuário que são produzidos globalmente.
A avaliação geral deve levar em conta não só os produtos químicos e pesticidas usados no cultivo de algodão, os corantes tóxicos usados na fabricação e a grande quantidade de resíduos descartados, mas também a quantidade extravagante de recursos naturais utilizados na extração, cultivo, colheita , transformação, fabricação e transporte de cada artigo de moda.
Gasta-se 2.700 litros de água para fabricar apenas uma camiseta e 7.000 litros numa calça jeans. As fibras sintéticas ou artificiais, embora não tão intensivas na utilização de água, muitas vezes têm problemas de sustentabilidade com a poluição em sua fabricação. E em todos os tipos de fabricação de tecidos, o tingimento é quimicamente intensivo.
Estima-se que 400 bilhões de metros quadrados de tecidos são produzidos anualmente, dos quais 60 bilhões de metros quadrados são de retalhos que sobram do corte. Cada ano mais de 80 bilhões de peças de vestuário são produzidas em todo o mundo, e depois de sua curta existência, três em cada quatro peças de vestuário vão acabar nos aterros ou serão incinerado. Apenas um quarto será reciclado.
Pense no imenso desperdício de água, energia, matéria prima e mão de obra que não foram gastos? Resolver todos esses problemas não é algo simples como mostra o ranking dos varejistas internacionais que tem dificuldade de incorporar o algodão sustentável em sua produção.Com a globalização de produção em países asiáticos, toneladas de peças de roupas viajam meio mundo dentro de navios que são alimentados pelo mais sujo dos combustíveis fósseis.
A tendência atual no varejo de moda alimentada pelas redes sociais de consumo imediato, está criando uma demanda extrema de produção de roupas descartáveis e isso é insustentável a longo prazo.Existem muitos desafios que tem que ser resolvidos para diminuir a descartabilidade, o uso de produtos químicos perigosos, o desperdício de água e matérias primas além e claro de acabar com o uso de mão de obra escrava na moda.
Mas a adoção dos sistemas de hybrid fashion e slow fashion podem ajudar a criar uma indústria da moda mais ética e sustentável. Donatella Versace está certa, a indústria da moda se tornou realmente uma bagunça e por isso precisamos mudá-la já.