A Holanda possui uma área menor que o estado do Rio de Janeiro, e com menos espaço, muito menos água e uso reduzido de pesticidas, o país conseguiu aumentar a sua produção agrícola e hoje é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. Com 17 milhões de habitantes a Holanda se caracteriza por produzir e vender produtos de alto valor agregado. Flores e plantas ornamentais, são os maiores em batatas, em cebolas, exportam ¼ dos tomates do mundo, altíssima qualidade em hortaliças, frutas, queijos e lácteos.
Tem uma produtividade no agronegócio cinco vezes superior do que a média da Europa, são líderes em máquinas para processamento de alimentos, e contam com o segundo maior investimento mundial em pesquisa para o agronegócio. A Universidade de Wageningen é reconhecidamente um dos principais centros de estudos do planeta. Ou seja, esse pequeno país ganha de nós, os brasileiros, no setor de agroalimentação, além de ter um extraordinário modelo de cooperativas. Porquê não importar para o Brasil o sucesso da agricultura holandesa com estufas?
Há quase duas décadas, o país assumiu um compromisso nacional para a agricultura sustentável, com o objetivo de “produzir o dobro da comida usando metade dos recursos”. Desde então, os agricultores holandeses conseguiram reduzir a dependência de água em até 90%. Eles eliminaram quase completamente o uso de pesticidas químicos em plantas em estufas, e desde 2009 os produtores de aves e fazendeiros de gado reduziram o uso de antibióticos em até 60%.
A fazenda dentro de uma estufa
Alcançar bons ganhos em espaços reduzidos é um dos grandes desafios da agricultura familiar. Para quem não dispõe de muita área, conseguir extrair o máximo de cada palmo de terra é o que pode decidir entre o lucro e o prejuízo da propriedade. Nesse sentido, uma ferramenta que vem ajudando produtores a maximizar o uso de seu espaço é o cultivo em ambientes protegidos, as famosas estufas.
Com estruturas versáteis feitas de vidro ou plástico, esse sistema pode ser aplicado na produção de hortaliças, flores, mudas, frutas e vegetais. Graças à proteção contra os ataques de pragas e ao clima controlado, a produtividade dentro desses espaços, em média, pode ser 30% superior ao cultivo convencional, utilizando menos água. Além do ganho de produtividade, esse tipo de estrutura melhora a qualidade dos produtos e os produtores conseguem um preço melhor pela produção. Vista de cima, a região de Westland na Holanda parece um “mar de vidro” por causa das inúmeras estufas.
Mais da metade da área do país é usada para agricultura. O complexo de estufas ou “fazendas climatizadas” permitem que o país produza um fruto cultivado em regiões com clima muito diferente: o tomate. A Holanda também é o maior exportador de batatas e cebolas, e o segundo maior exportador de vegetais, em valor. Mais de um terço do comércio global de sementes tem origem em terras holandesas.
O cérebro por trás desses números, de acordo com a interessante matéria da National Geographic, é a Wageningen University & Research (WUR). Conhecida como uma das melhores instituições de pesquisa em agricultura, a WUR é o ponto mais importante do Food Valley ou Vale dos Alimentos, um amplo conjunto de startups de tecnologia agrícola e fazendas de testes. O nome é uma alusão ao Vale do Silício, na Califórnia, sendo que a Wageningen tem o mesmo papel da Universidade de Stanford em unir a academia ao empreendedorismo.
Outro motivo para admiração: a Holanda é um país pequeno e densamente povoado, com mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado. Carece de quase todos os recursos há muito considerados necessários a uma agricultura de grande escala. E contudo é o segundo exportador mundial de géneros alimentares, superado apenas pelos Estados Unidos, cuja massa terrestre é 270 vezes maior.
Como é possível que os holandeses tenham conseguido este feito? Adotando novas tecnologias e complexos de estufas de vidro, alguns dos quais com 70 hectares. Mais de metade da superfície terrestre do país é utilizada para a agricultura e a horticultura. O ambiente de cultivo é mantido a temperaturas ideais durante todo o ano através do calor gerado por aquíferos geotérmicos que fervilham no subsolo em pelo menos metade da Holanda, e a principal fonte de irrigação é a água da chuva. Mas não é a Holanda que tem a maior área de estufas da Europa, é a Espanha.
O “mar de plástico” de Almeria
Desde os anos 60, a pequena planície costeira, a cerca de 30 quilômetros a sudoeste da cidade de Almeria (Andaluzia, sul da Espanha), desenvolveu a maior concentração de estufas de plástico do mundo, apelidada de “mar de plástico” cobrindo 30.000 hectares. Várias toneladas de vegetais e frutas como tomates, pimentões, pepinos, abobrinhas, melão e melancia, além de flores ornamentais, são produzidos em Almeira anualmente. Mais da metade da demanda da Europa por frutas e hortaliças frescas é cultivada sob estufas forradas de plástico, alimentando a receita da província de Almeria em US $ 1,5 bilhão em receita anual.
Há mais de 50 anos, essa região no sudeste da Espanha era muito seca e estéril, recebendo uma média de 200 mm de chuva por ano. Mas com o solo importado e sistemas totalmente hidropônicos que alimentam com fertilizantes químicos os recipientes de cultivo, nas últimas décadas, a área tem sido usada intensivamente para a agricultura. A proliferação de estufas de plástico relativamente baratas, triplicaram alguns rendimentos de culturas em comparação com as de campos abertos, onde as culturas estão mais sujeitas a pragas e secas.
Uma mistura de milhares de pequenos produtores e grandes empresas cuidam das plantações dentro das estufas plásticas. O mar de estufas de Almeria é tão vasto que pesquisadores da Universidade de Almeria descobriram que, refletindo a luz do sol de volta à atmosfera, as estufas estão realmente esfriando a região. Enquanto as temperaturas no resto da Espanha subiram a taxas acima da média mundial, a temperatura local caiu uma média de 0,3 graus Celsius a cada 10 anos desde 1983. Empresas de reciclagem de plástico se instalaram na região para reciclar as lonas de plástico descartadas.
O mar de plástico é a maior zona mundial para cultivo debaixo de folhas de plástico (cerca de 350 km²) além de ser um modelo de exploração agrícola de alto desempenho técnico e econômico baseado no uso racional da água. A cada ano, milhões de toneladas de frutas e verduras são exportadas. Mais da metade da colheita vai para a Alemanha e outros países da Europa Ocidental. A China, com 82.000 hectares, e Espanha, com 70.000 hectares, são os dois primeiros países do mundo em termos de superfície agrícola dedicada à produção de frutas e legumes em estufas, de acordo com o Rabobank Research.
Destes 70.000 hectares por toda a Espanha, pouco mais de 30.000, ou seja, quase metade do total nacional, estão localizados em Almeria. A superfície mundial de estufas permanentes é estimada em meio milhão de hectares, dos quais 40.000 são instalações de vidro e o restante é de plástico. A Europa é a área do mundo onde mais estufas estão localizadas (210.000 hectares), à frente da Ásia (180.000 hectares), mas é na Ásia que as estufas permanentes estão crescendo mais.
As estufas de plástico são utilizadas em climas quentes, e tem um investimento bem menor que as estufas de vidro, utilizadas em climas frios. Novas tecnologias aliadas a grandes complexos de estufas podem transformar o Vale do Jequitinhonha e o norte de Minas Gerais, que correm risco de se tornar um deserto, num oásis de produção de alimentos, como acontece na Holanda, Espanha e Israel.
O norte de Minas e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha sofrem com a constante seca. Porquê não transformá-los numa potência agrícola com alta tecnologia e estufas?
O norte de Minas Gerais e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha enfrentam há vários anos secas severas que acabam destruindo as lavouras dos agricultores. Os açudes e rios secaram em várias regiões. A terra seca não produz nem as culturas de subsistência. Sem alimento, o gado emagrece no campo, dia após dia. Escassez de chuvas, corte de mata nativa, assoreamento e poluição são alguns dos motivos para a drástica situação de seca que afeta o Estado.
O drama dos produtores rurais se estende à população urbana. A 120 quilômetros da nascente do Gorutuba, em Janaúba, no Norte de Minas, está a barragem do Bico da Pedra, que também abastece Nova Porteirinha e as plantações de 345 agricultores do Projeto de Irrigação do Gorutuba, de onde sai grande parte das frutas – principalmente banana – comercializadas na Central de Abastecimento (Ceasa), em Belo Horizonte. Por conta das agressões à natureza e das secas sucessivas, centenas de pequenos rios e córregos já desapareceram no Norte de Minas.
A mata nativa foi derrubada para dar lugar a reflorestamentos de eucalipto, que passaram a ocupar grandes extensões de terra no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha na década de 1970. A diminuição da água no rio Gorutuba mostra o preço que foi pago pelo desmatamento. Com a retirada da mata nativa, foi eliminada também a permeabilidade natural da água da chuva, ocasionando o assoreamento das nascentes do Gorutuba e outros rios. Dos 700 rios e córregos do norte de Minas, 550 estão secos ou cortados. Veja a reportagem completa aqui.
Convivendo com a pior seca dos últimos 80 anos, o Vale do Jequitinhonha pode se transformar em um imenso deserto em poucos anos se não forem tomadas medidas de recuperação das nascentes dos rios, reflorestamento das matas ciliares e construção das barragens de contenção das chuvas, entre outras providências. Mas depender somente da água dos rios e poços artesianos é complicado pois ambos secam. Diferente dos estados do nordeste que são banhados pelo mar e podem recorrer a tecnologia de dessalinização para obter água potável, Minas Gerais teria que explorar outro tipo de tecnologia para “fabricar” água pura utilizando os “rios aéreos“.
Estação Geradora de Água Atmosférica
Estimas-se que a atmosfera da terra possui 12,4 quatrilhões de litros de água em forma de vapor, chamados de “rios aéreos”. Um gerador de água atmosférica (AWG em inglês) é um dispositivo que extrai água do ar em seu estado gasoso, livre de sal e contaminantes pesados, para condensá-la e purificá-la ainda mais e adicionar aditivos mineralizantes para adequá-la ao consumo humano. Ao contrário de um desumidificador , um AWG é projetado para tornar a água potável. AWGs são úteis onde a água potável pura é difícil ou impossível de obter, porque quase sempre há uma pequena quantidade de água no ar que pode ser extraída.
Esses equipamentos sintetizam este processo natural, fazendo a condensação da água em qualquer ambiente e realizando um super processo de filtragem por osmose reversa, desinfecção e mineralização que nos permite produzir uma água de ótima qualidade. A empresa americana EcoloBlue desenvolveu um interessante conceito de Estação Geradora de Água Atmosférica que é capaz de fabricar 400.000 litros de água pura por dia. O vídeo abaixo mostra a Estação que seria instalada na Califórnia. Os geradores de água atmosférica não só podem ser usados individualmente para menores necessidades de água, como também para as áreas onde a necessidade de água é maior.
Estas estações de água também são escaláveis para criar até 1.000.000 litros de água por dia. Os AWGs da EcoloBlue são projetados para funcionar perfeitamente com qualquer fonte de energia, incluindo geradores solares, eólicos e a gás. Dessa forma podemos ter água potável ilimitada e pura em qualquer lugar, a qualquer hora. A Estação faz o serviço contínuo de produzir água para consumo humano ou para irrigação 24 h/dia.
As estações podem incorporar fontes de energia renováveis para garantir que a produção de água seja rentável e sustentável. A água extraída do ar é efetivamente água evaporada que, em seguida, passa por um processo de filtração de 12 estágios e pode ser mineralizada para criar água com ótimo sabor. Essa tecnologia que produz água a partir da umidade do ar já foi desenvolvida no Brasil pelo engenheiro mecatrônico Pedro Ricardo Paulino e sua empresa Wateair. Como alternativa para combater a crise hídrica na cidade de São Paulo, Paulino apresentou uma proposta ao Governo para a instalação em larga escala de miniusinas capazes de produzir 2 milhões de litros de água por dia.
De acordo com o empresário, as miniusinas seriam instaladas às margens dos rios Tietê e Pinheiros, por conta do alto índice de evaporação no local e para transformar uma água com grande concentração de poluentes em ultrapura. “O processo se baseia em retirar o vapor da água que está evaporando do rio, não tem nada a ver com aumento de vazão dos rios e sim capturar a água evaporada” Grandes máquinas de AWG são utilizadas em Israel e países do Oriente Médio na fabricação de água para a produção agrícola.
A tecnologia AWG aliada a implantação de um grande complexo de fazendas de estufas pode transformar o norte de Minas Gerais e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha numa potência agrícola. Centenas de Estações Geradoras de Água Atmosférica movidas a energia renovável podem ser instaladas na região para produzir água pura que alimentará o complexo de estufas, seguindo os exemplos da Holanda, Espanha e Israel. A tecnologia já existe falta agora a vontade política do Governo Estadual e Governo Federal para lançar um grande plano para transformar a região em parceria com a iniciativa privada. Se a situação continuar como está, uma grande área em Minas Gerais vai virar deserto.