Como evitar que toneladas de roupas velhas sejam enviadas para aterros? A gigante do fast fashion H & M pretende tornar suas operações totalmente circulares até 2030 e, recentemente, informou que possui cerca de US $ 4,3 bilhões de roupas em estoque que não foram vendidas. E empresa necessita desesperadamente de tecnologias com a capacidade de fazer com que esses problemas desapareçam. E rápido.
A H & M trabalhou em estreita colaboração com o Instituto de Pesquisa de Têxteis e Vestuário (HKRITA) de Hong Kong, no desenvolvimento de uma nova tecnologia de reciclagem hidrotérmica que leva cerca de 35 minutos e pode recuperar com sucesso o poliéster e o algodão dos tecidos mistos, e reutilizá-los em fios virgens. Embora seja possível reciclar roupas feitas de um material, até agora não existia nenhum método comercialmente viável para reciclagem de misturas em grande escala.
A Novetex Upcycling Factory é de propriedade da empresa Novetex, e quando totalmente equipada, poderá produzir diariamente, 3 toneladas de fibras recicladas da mesma quantidade de resíduos têxteis, sem afetar custo ou qualidade. Em breve, a fábrica terá três opções de reciclagem – fluidos iônicos, hidrotérmicos e mecânicos. É uma pequena fração das 340 toneladas de resíduos têxteis descartados pelos moradores de Hong Kong todos os dias, mas a empresa acredita que é possível expandir a capacidade para processar cerca de 1/3 desse valor no futuro, reduzindo a pressão nos aterros sanitários da cidade.
“Essas tecnologias podem ser a porta de entrada para uma indústria da moda desacoplada do uso de recursos naturais virgens”, disse Erik Bang, que lidera os esforços de inovação da Fundação H & M, uma organização sem fins lucrativos financiada pela família proprietária do Grupo H & M. A varejista de roupas já fez um primeiro pedido na fábrica, como parte de sua proposta de se tornar “totalmente circular e renovável”, segundo Cecilia Brännsten, gerente de sustentabilidade ambiental do grupo.
As empresas de vestuário em todo o mundo dobraram a quantidade de roupas que produziram entre 2000 e 2014, de acordo com um relatório de 2016 da consultoria de gestão McKinsey & Company. No mesmo período, o número de peças compradas a cada ano, por pessoa, subiu 60%, segundo o relatório. Isso levou a uma grande quantidade de roupas – compradas e jogadas fora, não vendidas ou jogadas como resíduos de fábricas têxteis – nos aterros sanitários.
A fábrica realizará a reciclagem mecânica, onde tecidos sujos ou danificados – como uniformes antigos ou cortinas de hotéis – são higienizados, com os botões e zíperes removidos, depois classificados e armazenados. Uma vez que uma encomenda chega para uma determinada cor, o material é esterilizado por UV antes de ser cortado em pedaços e fiado em fio. Nenhuma água ou corante é necessária, e apenas pequenas quantidades de material virgem são usadas.
Mas a fábrica também testará um sistema para separar misturas de algodão e poliéster usando apenas calor, água e uma pequena quantidade de produtos químicos biodegradáveis. O algodão é transformado em pó de celulose, enquanto a fibra de poliéster é usada para fazer tecido novo.
Se a Novetex puder mostrar no chão de fábrica que as tecnologias funcionam para produzir fios de alta qualidade, isso poderia impulsionar a demanda global por fios reciclados e um uso mais amplo da tecnologia, dizem seus criadores. A H&M e a HKRITA pretendem disponibilizar essa tecnologia gratuitamente para a indústria, visando reduzir nossa dependência de recursos naturais limitados para vestir uma população global crescente.