O uso intensivo de algodão e de fibras à base de petróleo, como o acrílico, poliéster, nylon e spandex, não é sustentável para o meio ambiente por causa do alto consumo de água e produtos químicos. É hora de procurar alternativas sustentáveis para produzir fibras e tecidos, e as inovações têxteis estão sendo buscadas em todo o mundo como é o caso da urtiga comum, a Urtica dioica, que é uma planta amplamente distribuída por todo mundo, cresce rapidamente e abundantemente em todo lugar com pouca água e sem produtos químicos. Será a urtiga a fibra sustentável do futuro?
As fibras e fios de urtiga são os materiais do futuro
O interesse em fios sustentáveis e alternativas naturais ao algodão comum aumentaram, e as vantagens da fibra de urtiga é que elas não provocam danos ambientais para produzir tecidos, como o algodão. Na busca de novos tecidos ecologicamente amigáveis, a fibra de urtiga é uma ótima candidata, mas ela foi muito utilizada no passado na produção de vestuário. As pessoas usaram roupas feitas de fibras e fios de urtiga nos últimos 2.000 anos, com traços mais antigos encontrados no final da Idade do Bronze em Voldtofte, na Dinamarca.
Há evidências de produção de tecidos de urtiga na Escandinávia, na Polônia, na Alemanha, na Rússia e na Escócia, mas também fora da Europa, dado que das três principais espécies de urtigas produtoras de fibras – urtiga européia, urtiga do Himalaia e Ramie – o último produz uma bela fibra produzida comercialmente na China e no Japão atualmente.
Com a chegada do algodão no século XVI e a seda como concorrentes, as fibras, os fios e as roupas de urtiga perderam sua posição na época pois o algodão era mais fácil de colher e tecer. Hoje, novos avanços em tecnologias de fiação e cruzamento produziram plantas de fibras super altas que são fortes, flexíveis, versáteis e com bom comprimento para a fiação. Num post anterior falei sobre o uso da fibra de urtiga pelas marcas de moda G-Star e Brennels.
A urtiga selvagem se torna tecido sustentável no Himalaia
A Himalayan Wild Fibers (HWF) é uma empresa privada norte-americana atuando principalmente no Nepal que produz e distribui fibras de urtiga, que são posteriormente usadas para fazer tecidos. De acordo com as informações fornecidas pelo site da empresa, o tecido de urtiga ajuda a reduzir o uso de água, matérias-primas, produtos químicos e energia que o fast fashion consome de forma crescente. Os baixos preços do petróleo nos últimos anos fizeram disparar as vendas de fibras obtidas a partir do petróleo e que envolvem 62,7% do consumo total de fibras no mundo todo. Estamos literalmente mergulhados em plástico!
A HWF ajuda na conservação do solo e contribui para a sustentabilidade das comunidades locais que trabalham com eles. A empresa compra a urtiga do Himalaia, a preços justos, na forma de tiras que vêm de fora da planta, sempre avaliando o impacto social, ambiental e financeira de suas atividades. Ele também faz importantes contribuições para uma organização dedicada ao desenvolvimento de comunidades locais que vivem em torno do Himalaia.
O plantio da urtiga ajuda a natureza e as comunidades locais
A Urtiga é bem conhecida pelos seus efeitos nocivos sobre a pele humana e ela cresce livremente em terrenos que não são servem para plantio de alimentos. Seu sistema radicular contribui fortemente para a conservação do solo e reduz o desmatamento. A urtiga do Himalaia é uma ótima alternativa de fibra têxtil, pois é a fibra natural mais longa do mundo e é muito flexível. Devido à sua estrutura oca, é mais brilhante e forte e menos susceptível ao enrugamento do que outras fibras naturais. Na verdade, quando ela é processada, as roupa ganham propriedades semelhantes. De acordo com muitos especialistas, é uma alternativa excelente para a maioria das fibras sintéticas e mesmo algodão.
A HWF tem uma fábrica para a extração de fibras em Katmandu, capital do Nepal, usando materiais locais, equipamento simples e uma abordagem sustentável. A água usada para lavar a fibra é reciclada várias vezes. De acordo com a empresa, o processo de extração requer apenas 75 litros de água por quilo de fibra, mas os seus técnicos pretendem reduzir em 70% quando o sistema for atualizado. Em contraste, para produzir um quilo de algodão comum requer o uso de 20.000 galões de água.
Usos e aplicações da fibra de urtiga
As comunidades do Nepal têm usado por séculos a urtiga do Himalaia, para extrair suas fibras têxteis e para usos médicos e alimentares. Só recentemente, a fibra tem gerado interesse na indústria da moda. A HWF exporta a fibra fabricada, que é utilizada principalmente para a produção de fios e tecidos de luxo que são utilizadas nas coleções de marcas famosas como Eileen Fisher, Stella McCartney, Hermes e Chanel.
Esta empresa, no entanto, não está sozinha no esforço para aproveitar a urtiga do Himalaia. A Camira, um fabricante de tecidos de decoração associada da De Montfort University, está estudando a produção de novos tecidos para estofamento feito de fibras de urtiga. A colaboração é o resultado da descoberta de um novo método para extrair as fibras utilizando enzimas.
A marca de moda dinamarquesa Brennels tinha sua própria fazenda de urtigas, onde seus técnicos experimentaram novas formas de crescer a planta e extrair sua fibra. A diferença fundamental entre a HWF e outras empresas é que a HWF trabalha com urtigas silvestres, não cultivadas pela mão do homem. Por este motivo, os fios produzidos de urtigas silvestres são diferentes.
Desafios e dificuldades
A HWF sabe que o desenvolvimento de uma nova matéria-prima sustentável enfrenta muitas dificuldades, a principal das quais é ter fábricas têxteis suficientes que queiram produzir fios e tecidos de urtiga. O desenvolvimento de fios, por outro lado, é difícil e caro. Na verdade, a HWF foi a primeira empresa têxtil a usar fibra selvagem do Himalaia e levou mais de um ano para produzir os primeiros produtos, e fez apenas em pequena escala.
Além disso, as fibras naturais, com excepção do algodão, participam com apenas 5,3% do consumo total de fibras. E as fibras obtidas a partir de urtiga representam apenas uma pequena percentagem de 5,3% das fibras naturais. Parece que apesar do alto custo de desenvolvimento deste material, mais tecelagens e fabricantes de vestuário estão dispostos a experimentar a fibra de urtiga por causa da sustentabilidade.
A fibra de urtiga desenvolvida pela HWF é um produto exclusivo e caro pois é produzida de forma muito artesanal, diferente do plantio massificado e fabricação industrial criado pela marca de moda dinamarquesa Brennels que investiu em engenharia genética para criar plantas de urtiga com mais fibras para produção têxtil. Isso facilita a baixar o preço da fibra e torná-la mais acessível as marcas populares.