Noventa por cento dos plásticos que usamos acabam em aterros sanitários ou nos oceanos do mundo. E se pudéssemos utilizar todo esse plástico que é muito durável e difícil de biodegradar para pavimentar ruas, estradas e rodovias? O Brasil produz 11.355.220 toneladas de lixo plástico por ano, sendo o 4º maior produtor do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. O país também é um dos menos recicla este tipo de lixo: apenas 1,2% é reciclado, ou seja, 145.043 toneladas.
Os dados são do estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza – WWF. Esse é o resultado trágico do atual sistema de economia linear de “extração, produção, descarte”. Como o Brasil recicla muito pouco o lixo plástico, por que não construir novas ruas, estradas e rodovias utilizando esse material? A Dow Chemical, um dos maiores produtores de plástico do mundo, participou da construção da primeira estrada do plástico na América Latina.
O projeto, realizado em parceria com o VISE e o Grupo Lasfalto, ajudou a recuperar quase 1 tonelada de plástico pós-consumo para melhoria do asfalto (pouco mais de 2 km de estrada). É uma rodovia oficial no México, no distrito de Uriangato. O ElvaloyTM (aditivo asfáltico da Dow) foi fundamental para alcançar o resultado. Embora as estradas ainda contenham asfalto, elas oferecem um uso prático para um produto que poderia se transformar em lixo.
Em 2017, a Dow fez uma parceria com o governo indonésio para impedir que o lixo plástico do país entre no oceano. Na época, a Indonésia era o segundo maior contribuinte do mundo à poluição marinha por plásticos, levando o país a estabelecer uma meta de reduzir o desperdício no oceano em 70% até 2025. A Dow ofereceu conselhos técnicos sobre como transformar o plástico do país em estradas.
Logo depois, a empresa ajudou duas cidades indianas, Bangalore e Pune, a desenvolver estradas a partir de mais de 100 toneladas de plástico reciclado. A Dow realizou esforços semelhantes na Tailândia, o sexto maior contribuinte do mundo em resíduos oceânicos.
A empresa não é a única a utilizar o conceito. A empresa britânica de estradas de plástico MacRebur abriu uma fábrica inteira dedicada a transformar resíduos de plástico em uma mistura de asfalto para estradas, estacionamentos e calçadas. A empresa já instalou estradas de plástico nos EUA, Austrália, Turquia, Bahrein, Eslováquia e Nova Zelândia. Além de reduzir a poluição, as estradas de plástico têm várias vantagens sobre o asfalto tradicional. Especialistas em rodovias dizem que são mais resistentes à corrosão pelo tempo ou por veículos. Por esse motivo, estradas de plástico podem reduzir os casos de buracos ou engarrafamentos perigosos.
Em 2015, a empresa de construção holandesa VolkerWessels estimou que as estradas de plástico reciclado poderiam durar pelo menos 50 anos, ou cerca de três vezes mais que as estradas convencionais e testes de laboratório mostraram que o produto pode ser de oito a 13 vezes mais forte. A empresa também estimou que as estradas de plástico poderiam sobreviver a temperaturas extremamente quentes ou frias. Cabe aos governos estaduais e federal decidir adotar essa tecnologia sustentável para renovar as caóticas estradas e rodovias pelo pais, reciclando os milhões de toneladas de lixo plástico que o Brasil produz todo ano.