Esse é o maior exemplo de upcycling têxtil na história. A Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, foi uma grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A crise mergulhou as famílias dos Estados Unidos em um estado de pobreza inimaginável. Os americanos, antes da crise, desfrutaram de um período de prosperidade e desenvolvimento incomum na sua história, e nem poderiam imaginar que iriam chegar ao fundo do poço.
As dificuldades dos americanos eram de tal ordem que a prioridade absoluta era conseguir comida. Todo o resto era luxo. A escassez levou muitos deles a se vestirem com sacos de farinha. Naqueles dias, “faça você mesmo” não era uma tendência e sim uma necessidade. As famílias não tinham dinheiro para comprar roupas, então as mães tinham que usar sua criatividade, recorrendo ao pouco que tinham a disposição.
Qualquer coisa provavelmente seria reutilizada. As mulheres perceberam que a farinha, um de seus alimentos básicos, chegava em sacos de algodão. Então esvaziaram os sacos e reutilizaram o pano para vestir seus filhos e a si mesmas. E não é só isso: os sacos também serviam para fazer colchas, bolsas, toalhas ou cortinas. Às vezes, eles eram usados para criar bonecas e brinquedos.
Quando os fabricantes de farinhas e alimentos para animais tiveram notícias desses fatos, decidiram ajudar essas famílias de maneira simples e com um custo que poderiam suportar, porque também não passavam pelo melhor dos tempos. Conscientes do uso que as mulheres davam aos sacos de algodão, começaram a fabricá-los com tecidos estampados. Dessa forma, as roupas feitas a partir deles seriam mais atraentes do que os tecidos chatos e ásperos da juta.
O sucesso da proposta foi tal que as empresas fabricantes decidiram até imprimir textos e informativos em etiquetas de papel ou em uma tinta que pudesse ser removida com algumas lavagens. Dessa forma, o tecido poderia ser usado em sua totalidade. Alguns dos fabricantes de sacos, imprimiam anúncios em que davam conselhos, ideias ou modelos para confeccionar certas peças de vestuário. Estima-se que, durante a Grande Depressão, 3,5 milhões de mulheres e crianças usaram roupas e itens feitos de sacos de farinha.
O que, em princípio, foi uma solução urgente durante a Grande Depressão, acabou se prolongando até depois da Segunda Guerra Mundial, quase nos anos 50. Durante a guerra, tudo era produzido para fornecer o exército americano. Durante a Segunda Guerra Mundial, o algodão começou a ser usado para fazer uniformes para os soldados, dessa forma, as marcas de farinha tiveram que substituir os sacos de algodão por papel.
Após a guerra e a crise econômica, graças à recuperação causada pela reconstrução europeia durante o período pós-guerra, a população americana não precisou mais resolver os problemas do vestuário recorrendo aos sacos de algodão. Os vestidos feitos com eles se tornaram parte do passado.
No final de 2016, a escritora e editora Linzee Kull McCray publicou o livro Feed Sacks: The Colorful History of a Frugal Fabric, um volume que foi apresentado embrulhado em diferentes papéis estampados que reproduziam esses tecidos e que resgatavam a história desse fenômeno com infinidade de detalhes, dados e fotografias.
Para promover o livro, a editora Uppercase Magazine organizou uma exposição na qual alguns dos sacos de algodão originais poderiam ser exibidos. Algo difícil de alcançar, porque a maioria deles se tornou vestuário para a população da época.
Em 1952, a diva Marilyn Monroe fez um ensaio fotográfico usando um vestido de saco de batata. A história é que Marilyn já foi castigada por um colunista de jornal por usar um vestido vermelho decotado para uma festa no Beverly Hills Hotel. Segundo Marilyn, o colunista a chamou de barata e vulgar. Sem parar por aí, o escritor sugeriu que a atriz ficaria melhor num saco de batatas.
Então, o estúdio de cinema Twentieth Century Fox decidiu capitalizar a história, contratando o fotógrafo Earl Theisen para tirar fotos de Marilyn usando um vestido feito com saco de batatas, criado pela figurinista Travilla, para provar que ela ficaria sexy em qualquer coisa. As fotos foram publicadas em jornais de todo o país.
Outra história foi a de que alguém fez uma declaração simples de que Marilyn poderia fazer um saco de batatas parecer sexy e o estúdio tirou as fotos publicitárias para provar que ele estava certo. A grife Dolce & Gabbana se inspirou no vestido de saco de batata de Marylin para sua coleção Primavera/Verão 2013. Veja as fotos aqui.
Quando comecei a ler a matéria já sabia que isso não tinha acontecido no Brasil.
Mas amei saber dessa história maravilhosa.
SeSACIONAL ,!MAGNÍFICO ,!MAGAVILHOSA !@
Matéria interessante. Não conhecia. Parabéns pela pesquisa. Irei compartilhar nas minhas redes sociais com os devidos créditos!
Beijos