Confrontada com a sua dependência das indústrias asiáticas, a Europa constata que boa parte da produção de uma série de bens, com destaque para os têxteis e a moda, deverá regressar ao solo europeu depois da pandemia. Especialistas da Bruegel, um think tank dedicado à pesquisa de políticas sobre questões econômicas, falam já numa tendência de desglobalização com a relocalização da produção para a Europa, o que pode ser importante para Portugal e Espanha.
São cada vez mais os analistas e os empresários que convergem neste ponto. António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, é um deles: “Sem pôr em causa as vantagens inerentes à participação das empresas nas cadeias de valor globais, justifica-se, do ponto de vista das estratégias empresariais, uma avaliação atenta dos riscos que lhe são inerentes”, escreveu num artigo de opinião no jornal Dinheiro Vivo.
Alicia Garcia-Herrero, investigadora do Bruegel diz que “vão acontecer duas coisas: a relocalização da produção para a Europa, que pode ser importante para a Portugal e Espanha, e da China para países como o Vietnã; não vai ser tudo relocalizado, mas será mais do que pensávamos”. Para a investigadora, “o coronavírus força uma desglobalização que será diferente da guerra comercial. Não é apenas um problema de cadeias de valor: estamos a caminhar para uma desglobalização no movimento de pessoas”.
Para o economista Ricardo Reis, professor da London School of Economics, “muitas empresas perceberam que têm de diversificar a localização da produção. Não podem ter toda a cadeia de produção num mesmo país. Será uma lição que levará a uma reorganização da produção nos próximos anos”.
Os próprios governos de vários países já identificaram o problema, principalmente nos países onde a desindustrialização foi mais severa. Bruno Le Maire, ministro das Finanças francês, afirmou que “vemos claramente que somos demasiado dependentes do fornecimento de países estrangeiros. Vamos rever as nossas cadeias de produção industrial para ver como podemos relocalizar os negócios nas áreas mais estratégicas de forma a sermos soberanos e independentes”.
Mas tem um detalhe. Do que adianta haver um retorno da produção têxtil e vestuário para a Europa se forem produzidos por empresas chinesas que exploram imigrantes asiáticos e africanos, como já acontece na cidade italiana de Prato, onde milhares de imigrantes chineses e de outros países produzem roupas “Made in Italy”.
Roupas, bolsas e calçados “Made in Italy”, feitos por chineses
Quem poderia imaginar que o vírus “Made in China” seria o responsável por acabar com o “sonho globalista” que desindustrializou países ocidentais para industrializar a China. Depois do gigantesco prejuízo social e econômico causado pela pandemia chinesa, a industria têxtil e vestuário do Ocidente deve se livrar de sua dependência da China como “fábrica do mundo”. É uma questão de sobrevivência!