A moda pode ser criativamente colaborativa, mas como negócio é conhecida como uma das indústrias mais competitivas e exclusivas até agora. Mas devido aos constantes avanços tecnológicos e necessidade de adotar padrões de fabricação mais sustentáveis e éticos, empresas rivais estão compartilhando ideias e se associando a startups para acelerar a inovação tecnológica e sustentável na indústria da moda.
Muitas vezes, a inovação na indústria está sendo feita por startups, e isso faz com que as empresas estabelecidas trabalhem e apoiem essas jovens empresas. A Fundação H & M criou o Global Change Award, que premia com 1 milhão de euros as cinco startups que apresentarem as ideias mais inovadoras para se criar uma indústria da moda circular, bem como poderem participar de um programa de aceleração de seus negócios. A marca Patagonia criou o Tin Shed Ventures que tem investido mais de US$ 20 milhões em startups ambientalmente e socialmente responsáveis desde 2013.
Com uma subvenção inicial da C & A Foundation e um convite aberto a toda a indústria de vestuário para se unir, o Fashion for Good é uma plataforma global de inovação que convoca marcas, produtores, varejistas, fornecedores, organizações sem fins lucrativos, inovadores e financiadores a se unirem de forma compartilhada. Através de uma parceria com a renomada aceleradora Plug and Play, o Fashion for Good oferece as startups inovadoras o financiamento e os conhecimentos necessários para desenvolverem seus negócios.
https://vimeo.com/216737431
Mas essas grandes empresas têm mais para tirar de tais parcerias do que uma mera estratégia de marketing. A H&M, por exemplo, tem se concentrado em se tornar mais sustentável há algum tempo, com o objetivo de usar materiais 100% reciclados num modelo de negócio 100% circular. Através da parceria com as startups, a H&M pode obter as respostas para as soluções sustentáveis que têm buscado ativamente. Veja mais sobre isso aqui.
No entanto, mesmo como uma tentativa de marketing, essas colaborações não só promovem pesquisas e desenvolvimento, mas facilitam conexões com outras empresas além da bolha da moda, utilizando perspectivas e habilidades alternativas. No ano passado, a marca de roupas Patagonia investiu numa startup suíça em rápido crescimento fundada por cientistas que desenvolvem tratamentos naturais para superfície de tecidos.
Os produtos químicos necessários para o desempenho técnico em roupas para esportes ao ar livre são frequentemente tóxicos, mas a Beyond Surface Technologies tem o potencial de ajudar tanto a Patagonia como toda a indústria, a alcançar o próximo nível de segurança química sem comprometer o desempenho.
https://youtu.be/LXPuuwAhtQo
Da mesma forma, a G-Star Raw e a Adidas fizeram uma parceria com a iniciativa ambiental Parley for the Oceans para produzir roupas e sapatos de corrida feitos com plástico reciclado recuperado do mar. Já a Nike fez colaboração com o Centre for Sustainable Fashion reunindo designers, cientistas, codificadores e estudantes para desenvolver o aplicativo MAKING. A ferramenta é de uso público e ajuda designers e criadores de produtos a tomar decisões mais informadas, classificando os materiais em termos de impacto ambiental.
A Alliance for Responsible Denim (ARD) é uma iniciativa da Universidade de Ciências Aplicadas de Amsterdã em colaboração com a House of Denim, Circle Economy e MADE-BY. A ARD trabalha em conjunto com marcas de jeans e fabricantes de denim internacionais para combater o impacto ambiental na fabricação do jeans. Marcas que aderiram à ARD no primeiro ano são G-Star, Nudie Jeans, Kings of Indigo, Kuyichi, CoolCat, Just Brands e Imps&Elfs. Além disso, os fabricantes de denim Bossa, Kilim Denim, Orta Anadolu, Tavex, Tejidos Royo e duas fabricantes de fios aderiram à iniciativa.
A Levi´s também tornou público sua tecnologia de acabamento para economizar água, compartilhando anos de pesquisa e desenvolvimento com suas rivais, a fim de promover e melhorar práticas mais sustentáveis. A Levi’s estimulou outros produtores de denim a adotar o processo Water<Less, que ajudaria a indústria a economizar até 50 bilhões de litros de água até 2020. A empresa também convidou 20 concorrentes para conhecer o Levi’s Eureka Innovation Lab, seu laboratório de testes em San Francisco, onde a empresa desenvolve novos produtos.
Um convite à colaboração
O que estamos vendo aqui é apenas o início de uma mudança de perspectiva, onde empresas concorrentes devem se tornar aliadas, colocando a exclusividade e a rivalidade comercial de lado. Essa é uma maneira totalmente nova de trabalhar para se criar não só uma indústria da moda circular, mas também promover mudanças holísticas a longo prazo dentro da indústria.
A indústria da moda tem uma clara oportunidade de agir de forma diferente, buscando lucro e crescimento, criando um novo valor para a economia de forma colaborativa. Na última década, a moda tem sido um motor para o desenvolvimento global e para avançar ainda na sustentabilidade e inovação tecnológica, as empresas precisam apostar na colaboração. Precisamos de um amplo compromisso e de uma participação coordenada da indústria como um todo. Com a ajuda de associações industriais, empresas, startups e consumidores, a moda pode se tornar uma indústria melhor.
No Brasil, as marcas de moda e empresas têxteis são muito competitivas e tem receio em participar de projetos colaborativos e compartilhar ideias com empresas rivais. Essa é um modo de pensar ultrapassado e não ajuda a tornar a indústria da moda nacional mais inovadora. Existe um provérbio africano que diz: “Se você quer chegar rápido, vá sozinho. Se você quer chegar longe, vá acompanhado.”