“Muitas de nossas melhores invenções são copiadas ou já estão em uso por outros seres vivos”. Essas simples palavras de Phil Gates, autor do livro Wild Technology, descrevem claramente uma verdade básica quando se trata de tecnologias e desenvolvimentos criativos, a natureza é o melhor mentor dos seres humanos.
Se hoje podemos viajar de avião, é porque inventores como Santos Dumont e Leonardo Da Vinci estudaram os pássaros em voo. Graças a George de Mestral, que copiou o design das sementes de bardana, agora podemos usar o Velcro. Até o famoso monumento, a Torre Eiffel, foi construído por causa de engenheiros estudando como o osso da coxa suporta o corpo humano.
Basicamente, quase tudo ao nosso redor é inspirado em desenhos encontrados na natureza, e a indústria do vestuário não é exceção. Sob a pressão para ser ecologicamente correta e sustentável, a indústria da moda está investindo em biomimética para projetar e desenvolver novos materiais inspirados na natureza.
O que são roupas de biomimética?
A biomimética é um campo de estudo em que os cientistas examinam a natureza e tomam emprestado elementos de design para criar novas tecnologias ou produtos. Quando se trata de têxteis, a natureza fornece muitos exemplos de combinações de cores, padrões e formas que se tornaram uma fonte de inspiração para os designers.
No entanto, a biomimética, quando aplicada à indústria do vestuário, vai além da aparência do têxtil. As roupas de biomimética visam aplicar processos e organismos biológicos a materiais que reconectam nosso corpo à natureza. Em vista disso, a nova geração de roupas não será apenas um meio de cobrir e embelezar nossos corpos. Os novos materiais serão mais sustentáveis e usarão processos naturais que protegem melhor nossos corpos e aumentam o conforto.
Além disso, a biomimética está trabalhando em tecidos que serão auto-reparáveis, auto-limpantes, preservarão energia, super-hidrofóbicos, camaleônicos e muito mais. De certa forma, as roupas irão interagir com nossos corpos, até reagindo às nossas emoções ou ao ambiente social. Embora ainda haja muito a descobrir e desenvolver nesse campo, os resultados já obtidos são um indicador de como a moda pode mudar em um futuro próximo para criar roupas que se tornarão funcionais e “inteligentes” para preservar o planeta e melhorar nossa qualidade de vida.
Últimas inovações trazendo peças de biomimética para o nosso armário
A aplicação da biomimética à moda e vestuário não é nova. Por exemplo, durante os Jogos Olímpicos de Sidney em 2000, a Speedo lançou um maiô que reproduz a pele de um tubarão para melhorar o desempenho do nadador. Quando 13 dos 15 recordes mundiais foram quebrados, o novo material definitivamente chegou às notícias.
A empresa japonesa, Teijin , foi inspirada nas asas das borboletas Morpho para criar a fibra Morphotex em 2007. As asas dessas borboletas são de um azul cobalto vívido, mesmo sem pigmento. Graças à alternância de 61 tipos diferentes de fibras de poliéster e nylon, Teijin reproduziu o mesmo efeito. Eles podem usar essa técnica para produzir tecidos em quatro cores básicas que mudam de tom e intensidade de acordo com a luz angular e sem tingir o tecido. Como resultado, o processo de produção economiza energia e favorece o meio ambiente.
Cor estrutural, a nanotecnologia da natureza que poderá substituir os corantes e tingimento têxtil
Como o movimento de sustentabilidade está ganhando força significativa na indústria da moda, agora existem muitas empresas iniciantes que estão investindo nesse campo. O objetivo final é combinar um ângulo de circularidade com processos biológicos para produzir novos materiais que tenham o menor impacto ambiental e tenham qualidades específicas para seus objetivos de uso. Aqui estão alguns exemplos mais recentes dos avanços em materiais de biomimética que foram trazidos para o mercado.
Fibras de algas
A Algalife é uma empresa alemão-israelense que representa um exemplo notável de como a biomimética pode ser aplicada para proteger o meio ambiente e a saúde do consumidor. A empresa produz tecidos e corantes a partir de algas usando um sistema de desperdício zero. Para cultivar os tecidos a partir de algas, apenas água e sol são necessários, gerando uma queda drástica no consumo de energia e poluição. Além disso, o tecido de algas nutre a pele à medida que os usuários a usam, e os corantes são completamente livres de químicos e alergênicos.
Imitação de seda da aranha e imitação de couro feito de fungos
A Bolt Threads é uma empresa inspirada na natureza para criar materiais sustentáveis. Usando levedura geneticamente modificada (ou recombinante), açúcar, água e sal, a empresa desenvolveu um processo de circuito fechado para biocientificar a nova fibra protéica Microsilk que imita a estrutura da seda da aranha.
Não requer produtos químicos poluentes de materiais derivados de petróleo, nem terra, água e pesticidas de fibras cultivadas convencionalmente. Em 2017, a estilista Stella McCartney se uniu à Bolt Threads para lançar a primeira coleção de moda usando o novo tecido de engenharia biológica. Uma de suas criações recentes é o Mylo. Inspirada no micélio, a rede de células que formam cogumelos, a empresa inventou um material altamente durável, biodegradável e um substituto válido para o couro sintético e animal.
Materiais impermeáveis que imitam o mundo animal
Nikwax é uma empresa que começou com o estudo da natureza e criou tecidos que tornam as pessoas mais confortáveis e protegidas ao ar livre. Por exemplo, Nikwax Waterproof é um tecido que imita pêlos de aves. O tecido protege da chuva, condensação e transpiração repelindo a água do corpo exatamente como a pele.
Bactérias para criar cores
A startup britânica de biotecnologia Colorifix está desenvolvendo um método de tingimento de tecidos que explora as cores brilhantes de pássaros e borboletas usando bactérias para recriá-los em tecidos. Mais importante, o processo reduz o uso de água em até 90%, dependendo do equipamento, pigmento e tecido, e é realizado a temperaturas mais baixas do que o tingimento comum, tornando todo o processo altamente sustentável.
A Colorifix colhe um gene de cor na natureza e o insere em uma célula bacteriana, enganando-a para preencher a cor e também duplicá-la. No processo de tingimento, as células pulam no tecido e liberam o corante, depois a solução é aquecida brevemente para matá-las.
Designers de moda e marcas inspiradas na natureza
À medida que a biomimética continua a progredir, mais estilistas estão experimentando novos materiais. É um exemplo perfeito de como a tecnologia e a moda podem trabalhar lado a lado para criar produtos de luxo que não são apenas agradáveis de se olhar, mas também sustentáveis e funcionais.
Salvatore Ferragamo
Esta famosa casa de moda italiana criou recentemente uma linha de roupas com tecidos de fibra de laranja. A Orange Fiber é uma startup que produz tecidos altamente sustentáveis a partir de subprodutos do suco cítrico. Usando uma idéia de resíduos de laranja, a empresa patenteou um novo tecido formado a partir de um fio de celulose semelhante à seda. Salvatore Ferragamo tem “Paixão Responsável” como seu lema e reflete um compromisso com o design inovador e sustentável. O uso de fibras feitas de laranjas tem sido uma ótima opção para eles, pois eles tentam viver de acordo com esse lema.
Yuima Nakazato
O estilista japonês Yuima Nakazato, em sua coleção de alta costura para a primavera/verão 2020 na Paris Fashion Week, apresentou vestidos super modernos e coloridos feitos com a nova fibra Brewed Protein produzida a partir de biomassa derivada de plantas usando o processo de fermentação proprietário da empresa japonesa Spiber. Fascinado pelas infinitas possibilidades dos materiais de “Proteína Fabricada”, Yuima utilizou na seda sintética sua técnica de estamparia Biosmoking, onde uma tinta de relevo cria texturas tridimensionais que parece plissado.
Coleção de alta costura de Yuima Nakazato utiliza seda sintética feita de plantas
Stella McCartney
Graças à cooperação com a Bolt Threads, a Stella McCartney criou um protótipo de sua icônica bolsa Falabella, usando o material Mylo feito a partir de fungos. Essa cooperação indica o compromisso da empresa com a moda sustentável, criando materiais de luxo da próxima geração.
https://www.instagram.com/p/B–17wLHgPE/
Páramo
A Páramo é uma marca especializada em roupas para ambientes externos, é um bom exemplo entre as marcas de roupas de alto desempenho, onde a excelência funcional é fundamental, que adotaram materiais inspirados na biomimética. A empresa busca continuamente tecidos e materiais inovadores para produzir equipamentos de alta tecnologia que proporcionam conforto e desempenho nas condições mais adversas e ambientes naturais. Assim, a Páramo utiliza sistemas têxteis inovadores da Nikwax em sua linha de roupas de alto desempenho
O futuro da biomimética na moda
A natureza é uma fonte inesgotável de inspiração. Sempre foi e continuará sendo no futuro. Quando se trata de biomimética e moda, o potencial para criar material novo e mais tecnológico é enorme. Além disso, como vemos o mundo exigindo soluções mais sustentáveis e ecológicas, é razoável prever um futuro em que a biomimética fornecerá novos tecidos e roupas que protejam o meio ambiente e deixem os que os usam mais confortáveis sem comprometer sua aparência.
Este campo que está na junção de ciência e design, criatividade e engenharia, sustentabilidade e inovação é, portanto, um campo em que é necessária uma nova mistura de habilidades para servir a indústria da moda. Um dos perfis de moda mais interessantes no Instagram é o Fashion Biologique criado por Jill Sherman e mostra claramente como a biomimética inspira a imaginação dos estilistas.
O Fashion Biologique surgiu comparando roupas da passarela de diversas marcas com motivos presentes na fauna do nosso planeta. E coincidência ou não, o resultado é impressionante, como vocês podem ver em algumas das imagens que selecionamos abaixo.
https://www.instagram.com/p/CBx8AB5gy7K/
https://www.instagram.com/p/CBtJSE9gY8F/
https://www.instagram.com/p/CBdCV9KgrkH/
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