Estamos presenciando a disrupção tecnológica acontecendo em todos os setores, da alimentação à saúde. Alguns setores são mais rápidos e mais fáceis de se transformar do que outros (por exemplo, viagens), mas isso não significa que a mudança não está sobre nós, independentemente do setor. Com relação à indústria da moda, não podemos deixar de notar que o atual modelo operacional não mudou significativamente desde o século passado.
O mesmo processo geralmente está sendo seguido pela maioria das marcas de moda atualmente: o estilista faz coleção, a coleção é apresentada a uma série de influenciadores de moda, a coleção é então encomendada pelos compradores, produzida em vários locais empregando vários fornecedores, distribuída para locais de varejo em todo o mundo nos próximos 6 meses.
Temos visto sinais de disrupção neste setor há alguns anos, com as marcas de fast fashion como Zara, H & M e Forever 21, trazendo novas coleções para as lojas a cada poucas semanas. Embora isso tenha mudado significativamente a maneira como as pessoas compram e tem acesso geral à moda, tornando-a mais acessível, ainda não mudou muito a forma como a indústria da moda opera.
Em contraste com outros setores, a disrupção da moda parece ser mais lenta e mais segmentada. Neste artigo, analisaremos as tendências para mudar esse setor novamente num futuro próximo: varejo ágil, personalização e tecnologia.
Varejo ágil
Marcas como a Zara mudaram o cenário da moda ao trazer as coleções aos clientes com mais rapidez e a preços mais acessíveis. O varejo ágil está preparado para mudar o cenário da indústria da moda ao empregar dados para prever as tendências do consumidor, eliminando o tempo de espera entre as coleções, agilizando os processos de produção e tornando a moda tradicional mais fútil.
Vemos marcas de moda emergentes atuando como marcas de tecnologia, coletando dados sobre o comportamento do consumidor, clima e uma variedade de outros fatores para influenciar tendências e usá-las para criar coleções que não são apenas mais desejáveis, mas também mais baratas de produzir e mais fáceis de distribuir. Essas coleções são projetadas tendo em mente os consumidores reais, têm tempos de produção mais curtos graças a processos simplificados e ciclos de distribuição mais eficazes, mas, o mais importante, a preços mais baixos, graças à venda pelo e-commerce.
Um dos exemplos do Varejo Ágil é a startup de e-commerce Lesara, que foi mencionada pela Forbes em sua lista 30 Under 30 honoree, como a próxima geração de empresas de moda que vai fazer suas vendas 100% online.Veja a matéria aqui.
Personalização
Vemos isso acontecendo na publicidade programática, com algoritmos redirecionando os consumidores com base no histórico de navegação e no comportamento online. Como isso será aplicado à indústria da moda? Poderíamos estar olhando para algoritmos sugerindo itens com base em compras anteriores e levando em conta vários fatores externos, como o clima. O resultado seria uma experiência de compra completamente personalizada, com novos estilos sendo sugeridos com base em uma combinação de tendências sazonais e de preferência.
Vejamos um exemplo: digamos que Roberta comprou um par de tênis brancos do site X, bem a tempo da primavera. O site X armazenará os dados sobre a compra de Roberta para que, quando ela voltar para procurar as novas coleções, receba uma notificação convidando-a a comprar uma capa de chuva bege que corresponderia à sua última compra e seria notificada de que a primavera será chuvosa.
Poderíamos esperar que os consumidores fossem segmentados com conteúdo editorial personalizado com base em suas preferências de estilo e moda. Uma pessoa que compra principalmente tênis em cores vivas receberia sugestões de outros itens com suas cores preferidas, enquanto uma pessoa que prefere roupas mais elegantes receberia sugestões com base em seu respectivo estilo.
Além disso, a tendência-chave para o futuro do varejo é a personalização em massa de roupas e acessórios utilizando tecnologias digitais onde as medidas corporais do consumidor são coletados para se produzir peças sob medida e sob demanda, eliminando o problema do estoque de peças prontas, desperdício de materiais e das constantes liquidações. Na personalização, o cliente faz parte do processo de criação do produto, escolhendo o design da peça, a cor, materiais e acabamento.
Tecnologia
As aplicações da tecnologia na indústria da moda são muitas: de previsões voltadas ao varejo baseadas no comportamento do consumidor (como as que apresentei acima), a impressão 3D, tricô 3D, wearables, roupas inteligentes e roupas virtuais, vemos o desenvolvimento em todos os lugares.
Nós já estamos testemunhando uma grande onda de inovação tecnológica, especialmente no setor de vestuário esportivo, com marcas como Rhone fazendo roupas de sportswear para homens, concebidas para controlar o suor e odor. Estaremos cada vez mais observando essas técnicas penetrando no mercado, com a tecnologia e a moda se unindo para produzir roupas inteligentes que se adaptam às condições corporais e climáticas.
Embora ainda na sua infância, a impressão 3D é uma tecnologia muito promissora para causar disrupção em vários setores, mas sua aplicação na moda até agora só conseguiu ser útil comercialmente para fabricar calçados e não roupas. Mas a tecnologia de tricô 3D, já está sendo utilizada em larga escala por diversas marcas, para fabricar roupas sem costura que podem ser personalizadas e feitas com as medidas específicas de uma pessoa.
Olhando para o futuro, podemos esperar que tais tecnologias se tornem tão acessíveis que o cidadão comum possa imprimir sua camiseta em casa. Finalmente, visando resolver um dos maiores problemas do varejo online, algumas marcas irão oferecer roupas virtuais em 3D. Usando as tecnologias de realidade virtual, realidade aumentada ou o mapeamento corporal 3D, a tecnologia agora nos permite ver como um produto se encaixaria antes de encomendá-lo online. Podemos esperar que isso melhore o desempenho do varejo de moda, reduzindo a taxa de retorno pelos clientes de roupas inadequadas.
A disrupção na indústria da moda não está acontecendo com um estrondo, mas de forma lenta e sutil. Uma coisa certa é que, quando olharmos para trás daqui a 10 anos, perceberemos o quanto mudou a forma como projetamos, consumimos e nos envolvemos com a moda.