A estabilidade a longo prazo para a indústria mundial da moda só pode ser atingida se as empresas e os consumidores abandonarem o conceito fast fashion e adotarem uma nova perspectiva sobre o setor, revela um novo estudo. Nos EUA, em média, um consumidor compra uma peça de vestuário a cada 5,5 dias e, na Europa, foi registado um aumento de 40% nas compras de vestuário entre 1996 e 2012, segundo o estudo “The environmental price of fast fashion”, publicado por cientistas escandinavos no jornal Nature Reviews Earth and Environment.

“O aumento drástico na produção têxtil e no consumo de moda resulta da emergência do fast fashion, um modelo de negócio que se baseia em oferecer, aos consumidores, novidades constantes sob a forma de produtos com preços baixos e que seguem tendências”, afirma a análise. “Este modelo de negócio tem sido extremamente bem-sucedido, comprovado pelo crescimento sustentado, pelo desempenho de mais retalhistas de moda tradicionais e pela entrada de novos players no mercado, como os varejistas online, que podem oferecer mais flexibilidade e entregas mais rápidas de novos produtos e também com maior frequência”, indica.

“Como resultado, as marcas, atualmente, estão a produzir quase o dobro do número de coleções comparativamente com os anos anterior a 2000, quando o fenómeno do fast fashion se iniciou. O aumento global da procura de produção de vestuário é de cerca de 2% ao ano”, destaca o estudo. O “The environmental price of fast fashion” também revela que a indústria da moda tem um consumo de água muito acentuado, com os autores do estudo a calcularem que são necessárias cerca de 200 toneladas de água para produzir uma tonelada de têxteis. Este sector é ainda responsável por cerca de 190 mil toneladas de poluição microplástica primária nos oceanos.

Em última instância, a estabilidade a longo prazo da indústria da moda depende do abandono total do modelo do negócio de fast fashion, associado à sobreprodução e ao consumo excessivo, e a correspondente diminuição no fluxo de materiais”, referem os autores. “Tais transformações exigem uma coordenação internacional e requerem novas mentalidades que devem ser adotadas pelas tanto pelas empresas como pelos consumidores”, acrescentam. De acordo com o estudo, o investimento em tecnologia recente para o controle da poluição é um “requisito essencial” para o futuro a curto prazo da indústria têxtil, necessária para remover químicos, metais pesados e outras substâncias tóxicas das águas residuais.

“A simplificação de processos industriais, incluindo a redução do número de produtos químicos aplicados pode reduzir os custos de produção, o que pode ser um incentivo econômico para implementar práticas mais sustentáveis. Seguindo a mesma lógica, os modelos de negócio criativos concebidos com um design proativo reduzem o desperdício, evitam a produção excedentária, contribuindo para um negócio ambientalmente mais sustentável”, aponta o estudo. Para combater todas estas problemáticas, os autores sugerem mudar o sistema convencional (adquirir, fabricar, descartar) e adotar um sistema circular que abranja três etapas: reduzir (eficiência), fechar (reciclagem) e abrandar (reutilização).

Sugerem ainda novos modelos de negócio como alugar, leasing, atualização, reparação e revenda. “O slow fashion é o futuro. No entanto, precisamos de um maior entendimento do sistema de como fazer a transição para esse modelo, que requer criatividade e colaboração entre os designers e produtores, as várias partes interessadas e os consumidores finais”, reconhecem os cientistas escandinavos.

“Além disso, deve ser construído um sistema funcional para reciclagem de têxteis. Um dos desafios mais difíceis daqui para a frente será mudar o comportamento do consumidor e o significado do conceito de moda. Os consumidores devem entender a moda mais como um produto funcional do que entretenimento e estarem prontos a pagar preços mais elevados, que tenham em conta o impacto da moda no ambiente”, admitem.

Artigo anteriorFotógrafos de moda, estilistas e criativos enfrentam futuros incertos
Próximo artigoDesigner cria belo folheado colorido a partir de palha de milho mexicana
Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.