Atualmente a reciclagem de roupas de algodão não é eficaz, mas duas startups acreditam que tem uma solução melhor. Nossa necessidade incessante de roupas novas alimentada frequentemente pelas tendências de moda e pela indústria do fast fashion cria toneladas de roupas velhas. Os americanos jogam fora 13,1 milhões de toneladas de tecidos por ano, dos quais 11 milhões de toneladas acaba em aterros sanitários, segundo o site da USagain.

Mas a startup americana Evrnu oferece uma alternativa através da reciclagem química, purificando os resíduos das roupas de algodão com solvente, depois convertê-los em polpa de celulose que através de um processo de extrusão cria uma nova fibra para tecidos premium. Essa nova fibra reciclada é mais fina do que a seda e mais forte do que o algodão.

A reciclagem química pode transformar roupas velhas em peças novas e mais resistentes stylo urbano-1

Vários grandes marcas, como H & M, Eileen Fisher (que até 2020 quer ser 100% sustentável) e Levi, estão recolhendo roupas usadas em suas lojas, mas a co-fundadora da Evrnu, Stacy Flynn, diz que essas empresas não tem necessariamente um segundo uso para essas peças. “As peças estão se acumulando e eles realmente não sabem o que fazer com elas. Temos outra utilidades para essas roupa como trapos, isolamento, tapetes, esses tipos de coisas. Mas a regeneração total dos tecidos ainda não foi comercializada.”

Neste momento, há poucas coisas que se pode fazer com as roupas descartadas, mas essa tecnologia de reciclagem oferece uma maneira para que as marcas mantenham esses recursos em sua cadeia de fornecimento.

O processo

Primeiro, a Evrnu retira os corantes e outros contaminantes dos resíduos das roupas feitas de 100% algodão. Em seguida, a polpa do algodão é quebrada para que suas moléculas se tornem fibra de celulose. Estas fibras são então recombinadas e através da extrusão cria-se uma nova fibra pura e suave, que pode ser utilizada na fabricação de novas camisetas ou jeans. Esse é uma ótima forma de reciclagem pois se o tecido velho pode ser reprocessado continuamente, o ciclo de vida útil se fecha, tornado as roupas velhas em recurso valioso para as empresas.

A Evrnu aproveita metodologias como “fast fashion” para reduzir os danos consideráveis ​​causados ​​pela indústria têxtil e de confecção através da reciclagem contínua de têxteis e vestuário de resíduos. Stacy Flynn iniciou a empresa em 2011 com Christopher Stanev, um químico têxtil e engenheiro. Sendo um veterano da indústria de roupas por 16 anos, Stacy Flynn ficou preocupada com o impacto de tanto tecido que está sendo produzido e, em seguida, jogado fora. Em uma viagem especial para a China, ela ficou chocada com o nível de poluição causada pela indústria da moda, e ficou convencida da necessidade de “criar uma forma de quebrar os resíduos e colocá-los de volta para serem utilizados como matéria prima no sistema.”

Desde 2011, Stacy Flynn diz que houve uma mudança na forma como a indústria pensa sobre reciclagem. A H & M e outras empresas por exemplo, oferecem roupas feitas de materiais reciclados mas ela diz que quebrar e limpar o lixo para fazer um novo fio oferece possibilidades muito mais amplas.

O tecido fabricado pela Evrnu tem a textura de seda e é mais forte do que o algodão, afirma Stacy Flynn. Ele custa a mesma coisa que o algodão orgânico, por isso, pode ser usado em produtos premium para começar. A atual reciclagem de fibras de algodão só consegue criar novas roupas com 20% de fibras recicladas misturadas com 80% de fibras virgens, mas o ideal seria obter roupas feitas com fibras naturais recicladas 100%. Por isso a importância da tecnologia desenvolvida pela Evrnu.

Evrnu está planejando uma fábrica e espera estar em produção até o final de 2016, e a intenção de Stacy é fazer a reciclagem das fibras localmente onde os resíduos estão acumulados, descartando a necessidade de transportar os retalhos dos tecidos para outros lugares. E é isso que a empresa pretende fazer em janeiro de 2016 como piloto de produção.

A empresa sueca Re: newcell conclui com êxito o primeiro programa de reciclagem de produtos têxteis transformando roupas de algodão velhas em um novo tecido de rayon pelo mesmo processo da Evrnu. A tecnologia foi desenvolvida no Instituto Real de Tecnologia em Estocolmo, é o primeiro de seu tipo para transformar completamente roupas velhas em novos tecidos de alta qualidade.

O processo para se fazer uma nova fibra têxtil de rayon através da reciclagem de roupas usadas tem as seguintes etapas:

Primeiro, as roupas de algodão velhas são classificadas e rasgadas em fiapos. Em seguida, os fios são tratados num processo químico para dissolvê-las num líquido (exatamente como o processo de rayon/viscose em que a polpa de madeira é transformado em fibra), e depois são extraídos. Em seguida, são tratados com uma sua segunda fase química e, finalmente, através do processo de extrusão se tornam uma nova fibra de viscose.

A reciclagem química pode transformar roupas velhas em peças novas e mais resistentes stylo urbano-2
Esse vestido amarelo foi criado através da reciclagem as fibras de algodão de calças jeans velhas.

Para a Re:newcell, existem toneladas de matérias primas para serem extraídas dos resíduos têxteis que vão para o lixo, com o consumo anual mundial de tecido atingindo aproximadamente 73 milhões de toneladas, e vê o processo como economicamente viável e de implementação global. A Re: newcell, diz que a tecnologia pode usada em roupas de algodão misturadas com outros materiais, mas existem problemas importantes de qualidade quando fibras misturadas entram em jogo, e os melhores resultados são vistos quando são usadas roupas de algodão 100%.

Por outro lado, a vasta gama de poluentes presentes nas matérias-primas, especificamente os retardadores de chamas e propriedades anti-rugas representam um outro obstáculo para o processo para produzir um tecido de melhor qualidade. E, se há uma vasta gama de corantes no tingimento do tecido, descolorantes devem ser utilizados. O único grande problema com o método é que o tecido de rayon recém-produzido não pode ser reciclado, assim o processo não pode continuar após a primeira reciclagem.

A Re: newcell está planejando a criação de sua primeira fábrica de reciclagem de tecido, que abrirá suas portas em 2016. Ela será capaz de processar 2.000 toneladas de tecido por ano, e o processo é um grande avanço na reciclagem de produtos têxteis e abrirá o caminho para inovações futuras. Mas além dessas duas empresas o Centro de Pesquisa Técnica VTT da Finlândia em colaboração com a Escola de Artes, Design e Arquitetura (Aalto) em Helsinque desenvolveram uma revolucionária tecnologia para a produção de tecidos de alta qualidade a partir de tecidos desgastados e muito sujos que atingiram o final do seu ciclo de vida. Veja aqui a matéria completa.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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