À medida que consumidores conscientes continuam a pressionar as marcas para que aumentem seus esforços de sustentabilidade, a circularidade se tornou uma palavra da moda. Mas Fashionscapes, um novo documentário apresentado na London Fashion Week, sugere que as empresas estão usando a moda circular como uma ferramenta de Greenwashing (lavagem verde) para encobrir como a reciclagem de roupas pode nem sempre funcionar tão bem.
Exibido esta semana na London Fashion Week, o novo documentário Fashionscapes: A Circular Economy expõe como as marcas de moda estão enganando os consumidores sobre a sustentabilidade de suas roupas ao comercializar itens como “circulares” de uma forma ou de outra. O filme é a último da série Fashionscapes criada pelo aclamado diretor Andrew Morgan, do filme True Cost, e a co-fundadora da Eco-Age, Livia Firth.
Economia da moda circular falsa
“O novo episódio de Fashionscapes revela como a grande chance da moda de abraçar a circularidade e escapar de um modelo destrutivo de pegar e desperdiçar está sendo minada por greenwash e petróleo, e por que vale a pena lutar pela moda circular”, afirma a sinopse do filme .
Ao longo do documentário, Morgan e Firth expõem a “falsa economia circular” que está tomando conta do cenário da moda, que está desacelerando mudanças significativas em direção a melhores resultados para as pessoas e para o planeta. As grandes marcas estão usando termos como “circular” e “reciclável” para suas roupas produzidas em massa, que muitas vezes são de qualidade muito baixa para serem recicladas e ganhar uma nova vida.
Em uma cena, montanhas de roupas descartadas chegam ao mercado Kantamanto, em Gana. Parte deles é reparada e reaproveitada, mas a maioria acaba sendo colocada em aterro simplesmente porque estão muito desgastados para serem reutilizados ou apresentam muitos fechos, botões e zíperes para serem desmontados para a reciclagem adequada.
Apesar desta realidade de quase 40% do vestuário acabar como lixo, as roupas que vão para este local estão a ser registadas pelas marcas como “recicladas”. “Isso é circularidade como uma lavagem verde”, diz Morgan. “Essa ideia foi usada para permitir que grandes corporações coloquem uma lixeira em uma loja enquanto continuam a usar cadeias de suprimentos que causam estragos no mundo natural.”
Circularidade está sendo ‘sequestrada’
A conclusão final do documentário é uma advertência severa de que o termo “circularidade” ou “economia circular” está em processo de ser cooptado por uma indústria que ainda está priorizando lucros e falhando na transição do modelo linear para o modelo circular.
Especialistas como a analista de sustentabilidade da moda Veronica Bates-Kassatly e o produtor de lã australiano Charles Massy aparecem no filme para explicar como as afirmações das grandes marcas muitas vezes não são sustentadas por nenhuma evidência real. Os consumidores estão sendo induzidos ao erro de acreditar em afirmações falsas, como a ideia de que o plástico pode ser reciclado infinitamente ou como suas roupas estão sendo totalmente reaproveitadas no final da vida útil.
“A economia circular corre o risco de ser sequestrada e a moda pode perder a oportunidade de mudar”, dizem os criadores da série Fashionscapes. “Milhões de cidadãos globais que amam a indústria [não] sabem que estão presos em uma economia linear e que são cúmplices de um sistema de“ superprodução para consumo excessivo ”impulsionado por modelos de produção como o fast fashion.”
Firth diz que espera que a investigação do filme, ao mesmo tempo que exponha as mentiras da indústria do fast fashion, ofereça uma “história que pode nos permitir imaginar um futuro cheio de possibilidades … [e] abrir caminho diante de visões distópicas”.