Embora a fabricação sob demanda seja responsável por apenas 1% de toda a produção de vestuário hoje, pode chegar a 20%/25% do mercado nos próximos anos se as marcas adotarem a fabricação digital da Industria 4.0 e aproveitarem as oportunidades para diferenciar suas coleções enquanto aumentam os lucros. A Amazon recebeu a patente de um sistema integrado de fabricação sob demanda de vestuário que é projetado para produzir “produtos têxteis” depois que as encomendas são feitas online.
Como o inventário será na forma de matérias-primas como “couro, tecidos e outros materiais” em vez de peças prontas de valor mais alto, a implementação dessa fabricação sob demanda ajudaria a reduzir o valor de estoque da Amazon. A empresa já tem uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes, as lojas de departamento e de fast fashion, por meio de sua incomparável plataforma de e-commerce, através da qual pode economizar substancialmente em aluguel.
Fabricação sob demanda e o Ultrafast Fashion
Outra vantagem da sequência de fabricação sob encomenda é evitar a obsolescência. Uma vez que cada “produto têxtil” seria fabricado com base na encomenda, não haveria um estoque de peças prontas de uma coleção que não agradou. Isso também ajudaria a reduzir o valor do estoque e a possibilidade de promoções que reduzem a margem de lucro.
Vivemos numa época em que os influenciadores sociais, formadores de opinião e celebridades exercem forte capacidade de mudar as tendências da moda na velocidade de um post ou foto no Instagram, por isso a Amazon aposta na produção de moda sob demanda, o que acabará substituindo o fast fashion pelo ultrafast fashion. No ultrafast fashion, os estilistas criam coleções cápsulas digitais em apenas um dia utilizando softwares como o virtuality.fashion, e no dia seguinte, os clientes já podem comprar as peças pelo site. Não é preciso perder tempo produzindo uma peça piloto física.
Embora fazer roupas sob demanda não seja um conceito novo, a Adidas, Uniqlo, Benetton, Eileen Fisher e Ministry of Supply utilizam máquinas de tricô 3D, a patente da Amazon ainda retém alguns aspectos da antiquada maneira de fabricar roupas, o corte e costura. Veja a seguir um resumo dos pontos-chave da patente do sistema integrado de fabricação sob demanda da Amazon.
Agregação de pedidos
Ao esperar que os pedidos cheguem em vez de prever a demanda, o sistema traz a otimização para um nível totalmente novo. A partir da agregação de pedidos, a organização pode ser baseada em um ou mais fatores de produtividade, como tamanho, forma, tipo de tecido ou local de entrega das roupas, entre outros fatores. Para pedidos com diferentes formas de roupas, se o tecido a ser usado for o mesmo, há um grande potencial para minimizar o desperdício de material. Veja o diagrama abaixo extraído do documento de patente, onde os círculos azuis indicam os encaixes feitos para maximizar o uso de tecido.
Corte, impressão e organização
O próximo passo do processo é onde grande parte da ação acontece. Não há máquinas de tricô 3D, mas os tradicionais processo de estamparia digital e corte à laser. A adoção da tecnologia está na forma de 4 câmeras (nos círculos azuis) que capturam as imagens para analisar o alinhamento e ajuste durante o processo de corte e impressão, para em seguida, enviar as partes cortadas para costura.
No próximo passo, uma esteira rolante moveria o recipiente com os partes da roupa para uma costureira ou máquina de costura automatizada, onde serão costuradas juntas para fazer as roupas na forma final. A costura pode ser feita inteiramente por uma máquina de costura automática, embora seja provável que um ser humano ainda esteja presente para organizar os partes de acordo.
Finalmente, o produto final pode ser embalado e enviado diretamente aos clientes (passo 4E como no diagrama abaixo) ou passar por uma rodada de inspeção de qualidade (etapa 4) antes de ser embalado (etapa 5). A beleza desse conceito é o aumento de produtividade na confecção do vestuário por meio do uso de analisadores de imagem e algoritmos para minimizar a intervenção humana. Esse processo também permite criar coleções personalizadas pelos clientes, uma tendência com forte crescimento.
A patente da Amazon é um exemplo claro da digitalização da indústria de vestuário utilizando softwares gráficos 3D, impressão digital têxtil, gerenciamento digital de cores, bordado, costura, prensagem e acabamento, além de sistemas de gerenciamento de informação, produção e venda utilizando inteligência artificial, big data, blockchain e internet das coisas.
É bem provável que a Amazon instale em suas fábricas 4.0, máquinas de tricô 3D para agilizar ainda mais a produção de roupas sob demanda, dando início ao conceito do ultrafast fashion, que diferente do fast fashion, acaba com o estoque de roupas prontas, necessidade de liquidações e desperdício de tempo e materiais. A agilidade trazida pela fabricação sob demanda juntamente com as vantagens de produtividade e minimização de resíduos, certamente redefinirá a fabricação de moda.
O forte ecossistema criado pela Amazon com seu domínio do comércio eletrônico, capacidade de atendimento de pedidos e pronta entrega, irá tornar a empresa a principal beneficiária do sistema de fabricação sob demanda, mesmo que os concorrentes replicassem esse conceito. A produção sob demanda do ultrafast fashion será mais sustentável do que a fabricação de moda atual.