As grandes empresas brasileiras de manufatura seguem normas rígidas para segurança do trabalho, saúde ocupacional e meio ambiente. Além dos direitos previstos em legislação, muitas das
empresas de manufatura oferecem planos de carreira, capacitação e incentivos comuns em corporações multinacionais. A combinação de mão de obra intensiva, alta formalização, carga tributária e benefícios cria barreira de custos importante para o avanço da economia circular no Brasil. Essa realidade contrasta com a indústria tradicional de reciclagem, onde a presença da informalidade é bem maior, prejudicando a própria indústria formal.

Por características históricas, o Brasil tem o privilégio de deter condições importantes para o desenvolvimento de modelos circulares. Temos aqui ao mesmo tempo um mercado consumidor forte, uma indústria de manufatura forte e uma legislação ambiental forte. Ou seja, os produtos consumidos têm facilidade para voltar ao ambiente de manufatura.

Na maioria dos países desenvolvidos a manufatura local é desproporcionalmente menor que o mercado consumidor. Nesse caso, a maioria dos produtos precisaria de uma viagem intercontinental para voltar ao ambiente de manufatura.

Essa vantagem, porém, não é permanente nem suficiente. Não é permanente porque outros países se movimentam rapidamente para modelos circulares. Não é suficiente porque o modelo circular não sobrevive submetido às condições fiscais e tributárias do modelo linear. Ainda assim, os benefícios da abordagem circular são evidentes para a sociedade e esta deveria ter uma tratativa diferenciada em relação à tributação e burocracia.

O desafio para que essa transição aconteça, antes de chegar à mudança
de comportamento do consumidor final, está de destravar padrões burocráticos antigos para um modelo produtivo tão revolucionário e transformador. O papel da indústria é facilitar e promover este diálogo para que junto ao governo um caminho mais curto seja traçado e esse modelo de produção aconteça, enfim.

Com essa visão de economia circular, olhando para a cadeia de eletroeletrônicos, a Flex construiu em Sorocaba, interior de São Paulo, o Sinctronics, Centro de Inovação em sustentabilidade para ser um fornecedor de soluções para que a indústria de eletroeletrônicos possa reduzir o impacto ambiental de seus produtos no pós-consumo ao mesmo tempo em que gera mais riqueza e emprego.

Combinando inovação e pesquisa, o Sinctronics provê tecnologia e infraestrutura para desenvolver projetos de transformação de resíduos sólidos em novos produtos que voltam para a cadeia produtiva do cliente, contribuindo para o desenvolvimento de negócios capazes de funcionar no longo prazo.

Por meio de um sistema próprio de logística reversa, são coletados itens como notebooks, celulares, computadores, impressoras, cartuchos e toners, servidores, entre outros e depois são transformados em matéria-prima para a fabricação de novos produtos. Cerca de 96% de todo material recebido é reutilizado. Parte se transforma em resina plástica para que novas peças de eletrônicos sejam fabricadas, parte é reciclada para uso em outras aplicações e parte se transforma em produtos de uso comum, como bancos e pallets para a indústria. A qualidade do plástico reciclado, garantida em testes de laboratório, é equivalente a de resinas virgens.

O Sinctronics fecha o ciclo produtivo de recuperação do plástico, oriundo de equipamentos eletroeletrônicos, que entra na fábrica e é transformado em matéria-prima para novos equipamentos. Para completar a entrega, o Sinctronics ainda oferece vários serviços aos seus clientes como pesquisa e desenvolvimento de materiais, implementação e execução de logística reversa, consultoria ambiental.

O Centro de Inovação é capaz de realizar a coleta de materiais para reciclagem em qualquer cidade do País, seja qual for a quantidade. Para isso dispõe de pontos físicos em várias regiões e também desenvolve modelos logísticos de recuperação de produtos pós-consumo para grandes empresas. No centro de inovação, localizado em Sorocaba, impressoras, celulares e cartuchos de tinta, entre outros equipamentos, são desmontados, descaracterizados e separados de acordo com suas propriedades (tipo de plástico, cor, metal, fios etc.). Triturado, derretido e granulado, o plástico pode ser utilizado em qualquer máquina de injeção e dar origem a novas peças. Os demais materiais, não plásticos, são encaminhados a centros de reciclagem parceiros.

O Sinctronics é a primeira planta de reciclagem de produtos descartados no mundo que funciona integrada a uma fábrica de produtos novos, plenamente preparada para receber os materiais e peças recicladas. Desta forma, é um case pioneiro de economia circular em que são reduzidos os custos e emissões decorrentes do transporte.

Para completar, são firmadas parcerias para potencializar e desenvolver conhecimentos na área de tecnologia no Brasil. Para isso, integra práticas educacionais e sociais que estimulam possibilidades de aprimoramento e crescimento profissional, incentivando a inclusão social e a educação ambiental.

Texto de Carlos Ohde para o Circulate News

Artigo anteriorRoupas que pensam e sentem, o futuro da tecnologia vestível
Próximo artigoFibra de bananeira e seu potencial para a moda e design sustentável
Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.