A indústria da moda está investindo em novas tecnologias para se fabricar tecidos de forma mais sustentável. A reciclagem mecânica já é utilizada há anos para reciclar tecidos de algodão mas não é a tecnologia ideal pois o tecidos reciclados tendem a perder qualidade o que dificulta uma reciclagem contínua das fibras de algodão. Assim algumas empresas estão desenvolvendo a tecnologia de reciclagem química para reciclar fibras de algodão de forma contínua para se obter um tecido de qualidade superior.
Esse é o caso da empresa austríaca Lenzing, líder mundial na produção de fibra de celulose e que está lançando uma nova fibra liocel (Tencel). O Tencel é conhecido no mercado como uma fibra ecológica e está agora expandindo sua linha com a criação de uma fibra altamente sustentável feita a partir dos resíduos de tecido de algodão descartado para ajudar a impulsionar soluções de economia circular na indústria têxtil.
A nova geração de fibras de liocel é uma fibra que combina a reciclagem de roupas e tecidos de algodão descartado com a celulose de madeira de eucalipto através da tecnologia pioneira da Lenzing para fabricar Tencel dentro de um circuito fechado de produção. A empresa disse que é a primeira fabricante a oferecer em escala comercial as novas fibras de celulose que incorporam materiais reciclados de algodão.
A nova fibra reciclada reduz a necessidade de extrair recursos virgens adicionais da natureza, e reduz o impacto sobre recursos ecológicos. O Tencel já foi premiado com o prêmio da União Europeia para o processo de produção eco-sustentável pelo fato de ter 99,7% de sua produção feita em circuito fechado e pela utilização de bio-energia.
A nova fibra Tencel introduz uma abordagem inovadora para o marketing pois não é vendida diretamente aos fabricantes de fio ou tecido. Em vez disso, ela será oferecida exclusivamente para os principais varejistas e marcas de moda que por sua vez poderiam produzir suas coleções de vestuário da forma mais sustentável envolvendo as tecelagens na fabricação de seus tecidos. De acordo com a Lenzing, isto assegurar uma estreita cooperação e transparência em toda a cadeia de valor têxtil.
O grupo Inditex dono da Zara, o maior grupo varejista de moda do mundo quer fechar o ciclo na moda seguindo os passos da H & M. A Inditex está se unindo a Lenzing para se comprometer com o modelo de “economia circular” em todas as fases de sua produção. Pablo Isla, presidente e executivo-chefe da Inditex, delineou várias novas iniciativas como parte do Plano de Estratégia Ambiental da empresa para 2016-2020.
Entre eles está o desenvolvimento pela Inditex do programa de recolhimento, reutilização e reciclagem de roupas velhas. Em setembro a Zara vai iniciar um esquema de recolhimento de roupas velhas para entrega online em Madrid, que depois será replicado por toda a Espanha e quem sabe em outros países. Juntamente com ONG de caridade Cáritas , a Inditex planeja instalar entre 1.500 e 2.000 caixas de coleta de vestuário nos principais centros da Espanha.
O projeto terá início com cerca de 500 toneladas de resíduos têxteis, com o objetivo de elevar isso para cerca de 3.000 toneladas dentro de alguns anos, disse a Inditex. A Lenzing fornecerá a Inditex tecido suficiente para produzir cerca de 48 milhões de peças de vestuário feitos de Tencel de algodão reciclado.
A Inditex segue os passos de concorrentes como a H & M, que lançou o primeiro programa de reciclagem de roupas do mundo em 2012, e a Nike , que já incorpora seus próprios resíduos reciclados em seus produtos. Levi Strauss é outra empresa que quer inaugurar uma empresa circular. A gigante do denim tem experimentado com uma enorme quantidade de materiais pós-consumo, incluindo redes de pesca recuperados e algodão regenerado.
Ainda assim, vale a pena ter em mente que, como a gigante do “fast fashion”, a Zara produz 450 milhões de itens de roupas por ano, e de acordo com a Bloomberg, nem sempre o trabalho de acompanhar as oficinas terceirizadas pelo mundo pode ser feito com exatidão.
Será esse uma tentativa da Inditex para tentar reverter os ataques que sofre na mídia e redes sociais pelos inúmeros problemas socioambientais causados pela moda barata e descartável? Será que as grandes redes de fast fashion vão conseguir convencer os consumidores das gerações Y e Z de que podem ser sustentáveis mudando somente a fonte de sua matéria prima? Agora temos que esperar pelos próximos capítulos dessa novela.